Os
López nunca quiseram concertar as divisas com o império
Olá sr. Bondius. Obrigado pelo comentário. No original no jornal está consertar. Na linguagem corrente (não sei se só no Brasil) tem sentido de arrumar, restabelecer. Consertar um aparelho que pifou, consertar a bicicleta. Concertar é no sentido de evento, café-com-concerto, concerto, recital, concerto musical. Seria no sentido de combinar, dando idéia de sincronia, ritmo. Consertar as divisas seria no sentido de se reunir pra estabelecer um consenso, tratado, contrato. Não eram divisas que estavam erradas a ser consertadas, endireitadas, mas combinar uma, criando, na base do consenso, as divisas que ainda não existiam.
Claro que é um conceito discutível, mas me pareceu mais adequado concertar em vez de consertar.
Olá sr. Bondius. Obrigado pelo comentário. No original no jornal está consertar. Na linguagem corrente (não sei se só no Brasil) tem sentido de arrumar, restabelecer. Consertar um aparelho que pifou, consertar a bicicleta. Concertar é no sentido de evento, café-com-concerto, concerto, recital, concerto musical. Seria no sentido de combinar, dando idéia de sincronia, ritmo. Consertar as divisas seria no sentido de se reunir pra estabelecer um consenso, tratado, contrato. Não eram divisas que estavam erradas a ser consertadas, endireitadas, mas combinar uma, criando, na base do consenso, as divisas que ainda não existiam.
Claro que é um conceito discutível, mas me pareceu mais adequado concertar em vez de consertar.
Nas entrelinhas da história
Os López nunca quiseram concertar
as divisas com o império
Acyr Vaz Guimarães
O
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s dois López nunca quiseram concertar os limites
territoriais com o império do Brasil. Parece incrível mas é a verdade!
Por que parece incrível?
Porque se supõe que a guerra do Paraguai (1864-1870) aconteceu por causa
de terras que os López contestavam e as queriam de qualquer maneira!
Mas, não!
Tanto dom Carlos Antônio López quanto seu filho Francisco Solano López tinham certeza de que as terras que
contestavam não lhes pertenciam.
Dom Carlos Antônio López tinha certeza de que a divisa da república do
Paraguai com o império do Brasil se fazia no rio Apa. Em 1843 o então
capitão-tenente de nossa marinha, Augusto Leverger, por determinação do
gabinete imperial, foi a Assunção pra fazer uma visita de cortesia a dom Carlos
Antônio López, partindo de Cuiabá, província de Mato Grosso.
Leverger, por informação do próprio presidente paraguaio, soube sobre um
mapa do país elaborado pelo geógrafo espanhol que viveu muitos anos no
Paraguai, dom Félix Azara. Dom Carlos, a pedido de Leverger, mostrou o mapa,
visto com precisão, conforme relatou ao gabinete imperial, que a divisa com o império
era no rio Apa ou Correntes. Como Leverger não foi pra tratar de limite, nada
se falou a respeito, mas Leverger tomou boa nota do assunto!
Dom Carlos Antônio López não conhecia a fronteira norte de seu país e
procurou saber a exata posição do rio Apa ou Correntes, solicitando ao
ex-comandante do forte Olimpo, Manoel Antônio Delgado, o informar com todos os
detalhes, respondendo a uma série de pergunta. Com a informação, dom Carlos Antônio
López soube que o rio Apa ou Correntes era, como é e sempre foi, o mesmo rio de
hoje. Dom Carlos López Antônio não ficou em dúvida.
Noutro lado, devia constar em seus arquivos notícia de 1792, portanto passados
55 anos aproximadamente, quando o Paraguai ainda era colônia espanhola, a
descrição de sua fronteira norte, feita por dom Diogo de la Vera, por determinação
do governador espanhol dom Joaquim Alós, que dizia: Esta província se estende no
norte e na margem oriental do rio Paraguai até o rio Apa ou Correntes que verte
no rio Paraguai nos 22º4’ 35’’... que é o paralelo geográfico do mencionado rio
(hoje e sempre).
Se percebe que o rio Apa ou Correntes, estipulado por dom Felix Azara e
por dom Diogo de la Vera, é o mesmo. Sem dúvida, a divisa do território
português, então capitania (1792), com a província espanhola do Paraguai, se fazia
no rio Apa, de paralelo geográfico 22º4’ e alguns segundos, que jamais mudará, prevalecendo
ante a denominação Apa ou Correntes, que pode mudar.
No exposto bem se vê que jamais os López ou outro presidente poderia
mudar a divisa, a não ser com acordo mútuo.
Então o filho mais velho de dom Carlos Antônio López, general com
dezoito anos, Francisco Solano López, mantendo severa quizila contra o império
do Brasil, sem razão de ser, deve ter influenciado seu pai pra não aceitar o
rio Apa ou Correntes como linha divisória mas o arroio (que passaram a chamar
de rio) Branco, bem acima do rio Apa, desembocando perto do forte Olimpo,
paraguaio, situado na margem direita do grande rio. Nenhuma razão para isso! Só
porque o arroio Branco desembocava perto dum forte paraguaio?
Em 1847 presidente Carlos López mandou Juan Gelly ao Rio de Janeiro, pra
tratar dos limites. Gelly propunha as divisas no rio Branco (um arroio que seca
durante as estiagens), em vez de no rio Apa. Nada argumentava pra mudar a
divisa do rio Apa (de acordo com o mapa de Félix Azara) no rio Branco, senão
que desembocava quase diante do forte paraguaio de Olimpo.
Nasceu ali a velha contenda. A terra entre o Apa e o Branco seria
paraguaia?
O império sabia que não, mas presidente López insistia que sim, sem
demonstrar a razão que o levou a assim proceder.
Como encontrou sérias e justas razões postas pelos diplomatas
brasileiros, que contrariavam as pretensões do presidente, resolveu propor que
ao menos fossem aquelas terras colocadas como neutras, sem ocupação por uma ou
outra parte. A questão ficou em estudo, sem solução. Mas López insistia!
Presidente López tinha em mira a navegação segura, sem percalço, até o
forte Olimpo. Se as terras entre o Apa e o Branco fossem, como eram,
brasileiras, essa navegação poderia ser vigiada, como fazia no trecho do rio
que atravessava seu território. Se neutras, sem ocupação, ou paraguaias, a
navegação seria livre, como queria o presidente. Essa foi a razão da destruição
dos alicerces do forte de Fecho dos Morros, em 1850. Se construído, cercearia a
navegação do rio, tornando vulnerável o forte Olimpo, colocado entre os fortes
de Fecho dos Morros e o de Coimbra.
Como os López sempre pensaram em guerra, jamais abririam mão das terras
entre o Apa e o Branco, mesmo sabendo que não lhes pertenciam de direito.
Presidente Carlos López tinha consciência de que aquelas terras não eram
paraguaias, escrevendo em 1852 a seu ministro plenipotenciário Moreira de
Castro: ...no
tocante ao território da direita do Apa só peço neutralidade, não propriedade
nem possessão dum palmo de terra...
Com essas palavras, que estão nos arquivos paraguaios, tudo fica
esclarecido, embora a tradição oral, propositalmente mal conduzida, as
desconheça.
Noutro lado, na bacia hidrográfica do Paraná, a proposição de Gelly, em
1847, no Rio de Janeiro, pro limite territorial, era na cumeada da serra de
Maracaju, desde o salto de 7 Quedas até as vertentes do rio Branco, nesse caso incorrendo
no erro de situar as vertentes do Branco na dita serra, quando ele nasce dali a
mais de 100km (na serra de Bodoquena). Mas a divisa seria (bom repetir) na cumeada da serra.
Sumariando:
Presidente López propunha a divisa no rio Branco, na bacia do rio
Paraguai, dizendo que ele nascia (não nasce) na serra de Maracaju.
O presidente propunha que, não aceita a divisa no Branco, fosse a área
entre o Branco e o Apa posta como terra neutra (pelas razões que expusemos).
Do lado da bacia do Paraná a divisa correria na cumeada da serra de
Maracaju (ou Amambai) a partir do salto de 7 Quedas (desaparecido).
Tudo acontecido em 1847.
Mais tarde veremos como tudo isso foi modificado pelos López!
Em 1852 o representante paraguaio Moreira de Castro (português de
nascimento) esteve no Rio de Janeiro pra tratar dos limites e doutros assuntos
relativos ao tratado de 1850.
Moreira de Castro refazia a proposta de Juan Gelly, de 1847, isto é, as
divisas ao norte de seu país seriam no rio Branco ou, na melhor das hipóteses,
fosse transformado o território entre o Branco e o Apa num território neutro.
Repetição do proposto por Gelly.
O gabinete imperial mais uma vez recusou a proposição paraguaia, fato
que levou Moreira de Castro escrever, a seu presidente, que o assunto só se
resolveria pelo feliz resultado duma guerra contra o Brasil. Carlos López
respondeu: A
república do Paraguai não quer guerra contra alguém. Muito menos contra o
império do Brasil. Mas não está disposta a sempre tolerar o roubo e os assaltos
que fazem as tribos selvagens que o Brasil mantém no território contestado
[...] e no tocante ao território da direita do Apa, só peço neutralidade, não
propriedade nem possessão, mesmo dum palmo de terra... [Assunto já
tratado].
Os índios guaicurus, embora sempre provocassem destruição em território
paraguaio desde remotos tempos, seriam apenas uma desculpa de López pra
neutralizar o território, porque, na verdade, conforme já dissemos, era a
navegação do rio Paraguai até o forte Olimpo sua grande preocupação! Queria uma
navegação livre, sem vigília brasileira!
Tanto Moreira de Castro insistiu neutralizar o território, que o
gabinete imperial se dispusera a neutralizar uma faixa entre os rios, conforme
disse a Carlos López seu representante Moreira de Castro: Após repetidas entrevistas o ministro
brasileiro se mostrou disposto a neutralizar uma zona entre o Apa e o Branco. Chegado,
portanto, o momento de prolongar a discussão, mas Carlos López chamou Moreira
de Castro de retorno. Se estava obtendo bom resultado, por que não continuar a
discussão com o gabinete imperial?
Vencido o grande inimigo do Paraguai, ditador Rosas, da Argentina, em
1852, Carlos López não mais precisando do seu protetor, o império do Brasil,
procuraria, doravante, dificultar o entendimento com o gabinete imperial, tanto
que devolveu as credenciais do embaixador brasileiro Pereira Leal, em Assunção,
por motivos de somenos importância, tão logo chegara do Rio de Janeiro seu
representante Moreira de Castro! Talvez nisso residisse o retorno desse seu
representante sem discutir a neutralização da faixa entre o Apa e o Branco, em
via de ser acertada com o ministro brasileiro de estrangeiro.
Então estava na Europa o filho mais velho de Carlos López, general
Francisco Solano López, jovem ainda, fazendo compra de armamento e contratando
técnico pra levantar a usina de Ibicuí, o arsenal de Assunção e outras obras,
como o telégrafo e uma ferrovia, de vista voltada a uma guerra contra os
vizinhos, conforme entrevista que concedeu ao jornal La tribuna, de Buenos Aires, em 1856.
Portanto houve razão pra que as missões brasileiras no Paraguai, pra
tratar de limite, não tivessem sucesso. Uma carta do ex-ministro de estrangeiro,
Paulino José de Sousa, com quem Moreira de Castro tratara a neutralização do
citado território, explicou tudo. Vejamos o que disse a visconde do Rio Branco:
Conversando
há dias com senhor Calderón de La Barca, que foi muitos anos diplomata, e
ultimamente ministro de negócio estrangeiro na Espanha, e recaindo a
conversação sobre as antigas colônias espanholas do sul da América,
especialmente sobre o Paraguai, contou que, sendo ministro, aparecera em Madri
e se lhe apresentara dom Francisco Solano López, filho do presidente daquela
república, quem lhe pedira o reconhecimento da independência e lhe propusera um
tratado no qual punha uma condição e seria que a Espanha assegurasse ao
Paraguai os limites pretendidos e decidisse a questão com o Brasil. Senhor
Calderón apresentou essa proposta como um bom exemplo da ignorância paraguaia
em assuntos internacionais e da presunção com que, em troca de suas importantes
relações, além de seu reconhecimento (da independência) punha uma condição tão
insólita. Porém refiro a V. Exa. este caso, como mais uma prova da muito
pensada relutância de presidente López em resolver conosco a questão de limite
de modo diverso daquele pelo qual teima decidir.
O que dizer?
Excertos
tirados do livro em preparo De Francia a
Solano López
Correio do
Estado
Campo Grande, Mato Grosso do Sul
Sexta-feira, 10.10.1997 e sábado-domingo, 18-19.10.1997
ConCertar ou ConSertar
ResponderExcluirOrquestra ou Exército... Fiquei na dúvida...