domingo, 25 de maio de 2014

O rei está nu 2
Nem quando criança gostei de 007, o tal Djeimes Bonde, que está mais pra Brigite Montfort ou Gisela, a espiã nua que abalou Paris, que pra Poe. Mais insípido que doutor Espoque de Jornada nas estrelas, sem humor e enredo muito pobre. Tudo só gira em torno duma série de aparatos espionescos espalhafatosos e do mocinho ir catando uma série de mulher bonita, nunca sendo rejeitado nem cometendo gafe. Mas o autor, Ian Fleming, sempre teve a fama de autor medíocre, sem talento. Comecei a ler um livro seu, Cidades fascinantes - Os lugares mais famosos do mundo descritos pelo criador de James Bond, falando sobre as cidades que conheceu: Roncongue, Macau, Tóquio, Honolulu, Losângeles e Lasvegas, Chicago, Nova Iorque, Hamburgo, Berlim, Viena, Genebra, Nápoles, Monte-Carlo (não tem Rio de Janeiro!). O que imaginei que seria leitura fascinante foi tremenda chatice. Comecei o primeiro capítulo, Roncongue, e parei ali mesmo. Mais parece um folheto turístico descartável, de interesse restrito ao turista da época, e olhe lá! Fico imaginando como um autor assim fica entre os grandes como se fosse grande também. Não passa dum autor descartável que há muito deveria estar no olvido, junto com seu miserável 007, duplo zero à esquerda.
Outra chatice, que não entendo como pôde ser iconizada, é a tal Elis Regina. A voz já não é lá grande beleza, ainda tem a mania de dar tranco no meio da canção, como se brincando embaixo do chuveiro. Vá ser cantora chata assim lá no Inferno! Está a anos-luz de distância de Clara Nunes ou de Benito de Paula. Esses sim, verdadeiros ícones.
Dos baianos Gil, Veloso, Bethania, Gal, etc, se nada são hoje, tiveram sua época, como Roberto Carlos e Renato Aragão, que justificam o pedestal pelo que produziram no passado, embora hoje sejam um obstáculo aos novos talentos encontrarem seu lugar ao sol.
Não me lembro em qual programa vi sobre a vida de Xitãozinho & Xororó, que se criaram ouvindo as músicas num rádio a pilha, com sintonia tão ruim, cheia de chiado. Sabemos que nosso falar é interativo, por isso se adquire sotaque e por isso os surdos falam daquele jeito trôpego. Decerto é por isso que essa dupla canta tão desafinado, tão dissonante. Sempre tive ojeriza daquelas canções ditas sertanejas que tocava no rádio às 6h da manhã. Aquele estereótipo de vozes a toda garganta me irrita. Música caipira não é assim. Se canta com voz normal. Podes constatar, aquele aaaaaaaaaaaaaa de garganta, tão comum nas canções mexicanas e paraguaias, é suave, harmônico, agradável. Nas sertanejas parece mais grito de filme de terror.
Outro estereótipo insuportável é o da cantora baiana com voz turbinada, potente. Parece que agora só é aceita a cantora com voz assim. Toda vez que aparecia Daniela Mercury eu tinha de mudar de canal correndo ou sair correndo.
Eu ouvia o pessoal falar embasbacado sobre Michael Jackson. Tinha inegável talento pra fazer aquela dança difícil. Tudo bem: Pode ser um ás da dança ou criador dum gênero novo de dança mas o fato é que a música me irritava, de tão desarmônica. Não falarei da letra, porque nunca analisei, mas a música...
Nem falarei sobre Madonna, Spears e outras tantas, tão abaixo da crítica, puro lixo.
Ney Mato Grosso tinha letras boas mas a voz em falsete era também irritante, de modo que ouvir um pouco e já parar, tamanho desconforto.
No auge de Mamonas assassinas minha sobrinha era criancinha e fã número 1 do grupo. Eu tinha ojeriza. Mas eis que abri um cedê onde tinha um míni-encadernado com as letras. Li a letra do vira-vira português e disse:
— Mas isto é uma sátira. Uma sátira de primeira! Eu colocaria este texto nas melhores antologias literárias de humorismo e sátira, sem pestanejar.
Então entendi que eu instintivamente enquadrava o grupo como cantores. Não eram, e sim uma mescla, uma composição. Era um teatro burlesco cantante e dançante. Como a capoeira, que é dança e luta. Um apreciador de balé ao ver a capoeira em primeira vez ficaria perplexo tentando enquadrar aquilo. Um carateca idem.
Mais ou menos isso aconteceu com o Tchã, um dos grupos mais criativos que já apareceram. Se não soube ou não pôde se manter, ou se caiu na mesmice, é outra história. Infelizmente todas as críticas que vi eram de cunho moralista. Nunca vi enfocar a crítica na própria arte. O Tchã do auge necessita uma reavaliação menos puritana.
Minha sobrinha um pouco maiorzinha. Apareceu a mãe, contando que no colégio tocariam o tal do Carrapicho. Era o grupo que estava entrando na moda cantando as toadas do boi-bumbá de Parintins. Quando cheguei até lá ouvi uma música dissonante, irritante. Não entrei. Meia -volta e voltei até casa.
— Isso é o tal do Carrapicho!?
Cerca de 1996. Havia alguns anos acompanhava os festivais de Parintins transmitidos pelo Amazonsat, acostumado com aquela beleza que foi até 1997, quando começou a decair, achei intragável, ou melhor, inaudível aquele arremedo de toada-de-boi. Vi que o Carrapicho fez o mesmo com a toada-de-boi do Amazonas o que o Calypso fez com o carimbó e outros ritmos paraenses: Transformou num produto comercial insosso, sintético, artificial. É como comparar champanhe com coca-cola.


Um comentário:

  1. Mário, um primor esse seu texto, acho engraçado os nomes das cidades aportuguesadas e sua avaliação dos cantores e das bandas... criativo demais ! Continue nos brindando com esses textos divertidos e gostosos de ler ! Abração, Xracer.

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