terça-feira, 29 de abril de 2014

O estranho mundo do gibi
Aproveitando o comentário de Jossi, falarei sobre o estranho universo do gibi. O universo da ficção em si já é estranho, mas o do gibi é bizarro.
Tem briga contra leão corpo-a-corpo, herói dando gravata em touro e búfalo. O mocinho sempre é o mais valente, nunca apanha, nunca erra e nunca morre. O cavalo do herói é herói também, e superior aos outros cavalos. Os cavalos de sargento Garcia não conseguem correr atrás do cavalo de Zorro. Tem até o cavalo do mocinho fugindo dos bandidos e indo buscar ajuda! Em cachorro isso já é meio duvidoso, como aqueles enredos de Lassie, mas vá-lá, é crível. Mas cavalo!
O mocinho prende o bandido, que automaticamente já está condenado à cadeia. Mocinho que é polícia, judiciário e legislativo. Nem precisa prova e o bandido nunca tem advogado.
Em 1983 Fanny Abramovich lançou o livro O estranho mundo que se mostra às crianças, que infelizmente ainda não li, abordando o tema.
Infelizmente é rara a literatura infantil e infanto-juvenil inteligente, como a de Monteiro Lobato. No geral predomina a baboseira melosa, o estereótipo, tipo castelo-ratimbum, com personagens falando daquele modo afetado, excessivamente teatral, do que imaginam que seja o mundo infantil, e a doutrinação ideológica de ser um bom menino, um mundo falso onde todo mundo é amiguinho e reina o maniqueísmo, etc.
Os antigos já diziam que a diferença entre remédio e veneno é a dose. Transmitir bons princípios é essencial prà formação moral do indivíduo, mas o excesso, a ostensividade e onipresença desse fator deixa tudo meloso e chato.
Abomino toda essa literatura infantilóide boboca, de gente que não tendo talento pra escrever adulto, se refugia no infantil, onde a crítica é muito mais branda.
Tudo isso nos prejudica, formando uma imagem distorcida da realidade, onde o malvado sempre é feio e tem voz desagradável e sempre é castigado no final.
Os enredos policiais são, no fundo, bem moralistas, sempre enfatizando a idéia de que o crime não compensa, de que o criminoso sempre é pego. Mesmo nos filmes o criminoso sempre sofre, seja morrendo, sendo preso ou ficando inválido. Pena que os criminosos não sejam leitores nem cinéfilos.
Mas essa pieguice não deixa de ter uma razão de ser. É chato que as estórias sejam moralistas, mas seria muito pior se não fossem. Vejamos uma nota de rodapé do capítulo La literatura y el crimen, do livro Enigmas del mundo del crimen, de José J. Llopis, editorial Daimon, 1ª edição, abril de 1964:
Hace ya más de 20 años, varios periodistas y escritores dieron voz de alarma acerca de la perniciosa influencia de la literatura criminaloide en las mentes poco formadas, especialmente entre la juventud. A tal efecto, en aquella época, el periodista Francisco R. Rodríguez publicó los siguientes párrafos:
 Há mais de 20 anos, vários jornalistas e escritores deram alarme sobre a perniciosa influência da literatura criminalóide nas mentes pouco formadas, especialmente da juventude. Sobre isso, naquela época, o jornalista Francisco R. Rodríguez publicou os seguintes parágrafos:
...resultando insuficiente para la concepción de aquellas mentes aquella literatura, se ideó dar vida a sus personajes. Y ya tenemos a los yanquis haciendo el tiraje de varios filmes de gángsteres. Y aquel público abigarrado, constituido ahora en casi su totalidad por jovenzuelos de uno y otro sexos, contemplaba febrilmente la lucha de los bandidos contra la policía, de la cual salían siempre victoriosos los primeros. Y ellos usaban sombreros del modelo de aquéllos, e imprimían a su voz aquella gangosa y nasal manera de hablar, al mismo tiempo que sus ojos tomaban la expresión de perdonavida. Y ellas ya no soñaban con el príncipe blondo y romántico, sino en la aparición brusca, después del tableteo de la ametralladora, del gángster, que al mismo tiempo que con la diestra sostenía el arma y con el brazo izquierdo rodeaba su talle, dijera: Hola, baby.
...sendo insuficiente prà concepção daquelas mentes aquela literatura, se idealizou dar vida a suas personagens. E logo os ianques produziram vários filmes de gângsteres. E aquele público abigarrado, quase todo constituído por jovenzinhos de ambos os sexos, contemplava febrilmente a luta dos bandidos, sempre vitoriosos contra a polícia. Eles usavam chapéus do modelo daqueles modelos, e imprimiam ao tom de voz aquele fanhoso e nasal modo de falar, enquanto os olhos adquiriam a expressão de perdoa-vida. E elas já não sonhavam com o príncipe louro y romântico, mas com a aparição brusca, depois do repicar da metralhadora, do gângster, que ao mesmo tempo que com a destra sustinha a arma e com o braço esquerdo rodeava seu talhe, dizendo: Alô, baby.
De las enseñanzas que proporciona aquel género de novela, el lector tiene suficiente noticia por la cantidad de mozalbetes que aprendieron del cine o de la lectura los procedimientos de se apoderar de lo ajeno. Citaremos el caso del gángster Federico Dane. Cuando la policía de Michigán, Estados-Unidos, le detuvo, en 1929, nel registro practicado en una de las casas que habitaba encontró en su biblioteca 200 ejemplares de novelas policíacas con anotaciones marginales de todos los errores en que incurrieron los criminales del autor. Aquello constituía un verdadero tratado del perfecto bandido.
Do ensinamento que proporciona aquele gênero de novela, o leitor tem suficiente notícia pela quantidade de rapazotes que aprenderam do cinema ou da literatura a se apoderar do alheio. Citaremos o caso do gângster Federico Dane. Quando a polícia de Michigão, Estados-Unidos, o deteve, em 1929, no registro praticado numa das casas onde morava encontrou em sua biblioteca 200 exemplares de novelas policiais com anotações marginais sobre todos os erros dos criminosos do autor. Aquilo constituía um verdadeiro tratado do perfeito bandido.
Como consecuencia inmediata, aquel país que primeramente divulgó el género literario que nos ocupa, fue también el primero que tuvo que salir al encuentro de los destrozos que él mismo causaba. Aquellos triunfos de los gángsteres sobre la policía hicieron que el público llegase a se formar un concepto deplorable de ella. El gobierno, queriendo proteger el respeto a las instituciones y a la moral públicas con el código de Will Hayds, comenzó a ejercer una gran censura para la publicación de argumentos de tal clase. Pero tan metida estaba dentro de los ciudadanos la admiración al bandido, que atribuían a cobardía de los órganos rectores el mutismo. Entonces se pensó en publicar una serie de películas en las cuales los bandidos sucumbieran bajo la técnica y valor de los agentes federales (El enemigo público número 1, Pistas secretas, Contra el imperio del crimen, etc.), consiguiendo la plena reivindicación con la serie de cortometrajes El crimen nunca paga, nel cual se llega a la conclusión de que nada hay secreto para el departamento de policía.
Como conseqüência imediata, aquele país que primeiramente divulgou o gênero literário sobre o qual falamos, foi também o primeiro que teve de procurar os destroços que ele mesmo causava. Aqueles triunfos dos gângsteres contra a polícia criaram no público um concepto deplorável dela. O governo, tentando proteger o respeito às instituições e à moral públicas com o código de Will Hayds, começou a exercer uma grande censura com relação à publicação de argumentos desse tipo. Mas estava tão incrustada nos cidadãos a admiração ao bandido, que atribuíam a covardia das autoridades o mutismo. Então se pensou em publicar uma série de filmes nos quais os bandidos sucumbissem sob a técnica e valor dos agentes federais (O inimigo público número 1, Pistas secretas, Contra o império do crime, etc.), conseguindo a plena reivindicação com a serie de curta-metragens O crime nunca paga, onde se chega à conclusão de que nada é segredo pro departamento de polícia.
Esa influencia de criminalidad a través de la novelería, radio, cine y televisión se acentuó con los años y con los nuevos medios difusores. Se llegó ya a la anécdota. En final de 1962, y desde que la última novela de la serie negra entonces en moda, Rififi en Nueva York se puso a la venta en Estados Unidos, las joyerías de la calle 44 hubieron de ser vigiladas por doble número de policías que de ordinario. El motivo era sencillo: El novelista Le Breton explicó, en la obra, cómo realizar, en las alcantarillas, el robo, a diamante, más importante del mundo.
Essa influência de criminalidade através da literatura, rádio, cinema e televisão se acentuou com os anos e com os novos meios difusores. Se chegou à anedota. No final de 1962, e desde que a última novela da série negra então na moda, Rififi en Nova Iorque estava a venda em Estados-Unidos, as joalherias da rua 44 tiveram de ser vigiadas pelo dobro de policiais que de costume. O motivo era simples: O novelista Le Breton explicou, na obra, como fazer, nas redes de escoadouro, o roubo, a diamante, mais importante do mundo.
No mesmo capítulo, sobre Conan Doyle:
Un de los grandes de la novela policíaca hasta cierto punto. Es un vulgarizador del género, y creador del más típico representante de los detectives, el también ultrafamoso Sherlock Holmes. Desde 1887, cuando lanzó al público, hasta la época de la primera guerra mundial, hizo vivir a ese personaje las peripecias más ingeniosas. Y cuando al cabo de 30 años quiso le hacer desaparecer, lo matando en la novela El problema final, surgió una protesta general y violenta del público, que lo obligó a seguir escribiendo y dando vida a un personaje que todavía en cuerpo y alma tiene vida auténtica en la imaginación de muchos seres humanos.
Um dos grandes da novela policial até certo ponto. É um vulgarizador do gênero, e criador do mais típico representante dos detetives, o também ultrafamoso Sherlock Holmes. Desde 1887, quando publicou, até a época da primeira guerra mundial, fez essa personagem viver as peripécias mais engenhosas. E quando no fim de 30 anos quis o fazer desaparecer, o matando na novela O problema final, surgiu um protesto geral e violento do público, o que o obrigou a continuar escrevendo e dando vida a uma personagem que ainda em corpo e alma tem vida autêntica na imaginação de muitos seres humanos.
Conan Doyle tenía gran imaginación. Sus casos son fértiles en esos pormenores tan fundamentales en la técnica de la novela policíaca y, además, usó mucho el recurso de persistir en la misma figura central, recurso que ya utilizó el folletín, luego la radio y ahora la televisión. Pero en sus novelas el único enterado de la verdad, al final de la obra, es el protagonista. Y al la manifestar, se produce el inevitable coup de théatre (golpe teatral). ¡El novelista ya cuidó de desorientar el lector con falsas sospechas! Esa incertidumbre y el desconcierto final constituyen el buen sabor inconfundible que la novela policíaca ofrece al lector adicto.
Conan Doyle tinha muita imaginação. Seus casos são férteis nos detalhes tão fundamentais na técnica da novela policial e, ademais, usou muito o recurso de persistir na mesma figura central, recurso já utilizado pelo folhetim, logo o rádio y agora a televisão. Mas em suas novelas o único que sabe a verdade, no final da obra, é o protagonista. E a manifestando, se produz o inevitável coup de théatre (golpe teatral). O novelista já tratou de desorientar o leitor com falsas suspeitas! Essa incerteza e o desconcerto final constituem o sabor inconfundível que a novela policial oferece ao leitor aficionado.
Na nota dessa página:
Sherlock Holmes del novelista inglés es, en realidad, Lupin contraído a la cabal comprensión del vulgo. Lo que en Edgar Allan Poe es sutileza, en Doyle se convierte en distensión o torsión absurda de la lógica. La pincelada del poeta yanqui se traduce por el brochazo colorido del novelista inglés. La labor paciente de aquél en un afán de sorprender al lector con rasgos de inesperada teatralidad. Es que Doyle invierte los elementos de la novela de investigación y al lo hacer crea un método técnico, un truco, que ya ningún cultivador del género desaprovechará.
Sherlock Holmes do novelista inglês é, na realidade, Lupin convertido à cabal compreensão do vulgo. O que em Edgar Allan Poe é sutileza, em Doyle se converte em distensão o distorção absurda da lógica. A pincelada do poeta ianque se traduz no brochada colorida do novelista inglês. O trabalho paciente de Poe em afã de surpreender o leitor com rasgos de inesperada teatralidade. É que Doyle inverte os elementos da novela investigativa e assim cria um método técnico, um truque, que nenhum cultivador do gênero desperdiçará.
 […]
Algunos de esos autores merece figurar en la historia literaria con todo honor. Me refiero, naturalmente, a Simenon. No podemos decir lo mismo de Edgar Wallace, aunque su fama sea extraordinaria y fue, junto con Doyle, el escritor policíaco que más dinero ganó.
 Alguns desses autores merece figurar na história literária com toda honra. Me refiro, naturalmente, a Simenon. Não podemos dizer o mesmo de Edgar Wallace, apesar de sua fama ser extraordinária e foi, junto com Doyle, o escritor policial que ganhou mais dinheiro.
[…] todavía recuerdo un gazapo de una de sus obras [Edgar Wallace], El cofrecillo de doble fondo, donde el autor asegura, muy formalmente, que la sangre de la víctima, nel piso superior, cayó al inferior se filtrando nel pavimento.
[…] ainda me lembro duma gafe duma de suas obras [Edgar Wallace], O cofrinho de fundo falso, donde o autor garante, muito formalmente, que o sangue da vítima, no piso superior, desceu ao inferior se infiltrando no piso.
¡Ni que fuese una piscina de sangre!
Mesmo que fosse uma piscina de sangue!
[…] Las tramas de Ellery Queen, bien desarrolladas lógica y literariamente, constituyen un alarde de seguridad y despeje imaginativo, pero en lo general forman tan terrible embrollo que no hay lector con ánimo bastante para acometer tan difícil tarea.
[…] As tramas de Ellery Queen, bem elaboradas lógica y literariamente, constituem um alarde de segurança y vôo imaginativo, mas no geral formam tão terrível maçaroca que não há leitor com ânimo suficiente pra executar tão difícil tarefa.
Sobre Agatha Christie:
Hablando con sinceridad. Sus obras son literariamente muy aceptables pero en ellas alguna vez se hace imposible la tarea de investigación del lector o espectador porque a menudo la autora mutila de intento el relato, ocultando con deslealtad fragmentos de los hechos que aparenta revelar. Y eso no está bien.
Falando sinceramente. Suas obras são literariamente muito aceitáveis mas nelas alguma vez é impossível a tarefa investigativa do leitor ou espectador porque a miúdo a autora mutila intencionalmente o relato, ocultando com deslealdade fragmentos dos fatos que finge revelar. E isso não está certo.
O universo disney apresenta uma paródia de nosso mundo, como se milhões de anos no futuro os patos e outros bichos evoluíram à forma humana. Tem um fato bizarro de que há bichos-bicho e bichos-gente. Assim Pateta é um cão-gente e Pluto um cão-bicho. Também tem a esquisitice de jacaré pôr a língua a fora e Margarida, que é uma pata, ter seios e usar sutiã, sendo que os patos não são mamíferos. E por que os patos têm o joelho na frente? Os patos reais têm o joelho atrás, como as galinhas. O fato de terem quatro dedos na mão é explicável pelo fato desses bichos em geral terem quatro dedos, mas nunca entendi porque todos usam luva branca.
Bizarro também é o gorila dos gibis, sempre feroz como um carnívoro. Burne Hogarth é tão aclamado pela apurada técnica de desenhista, tendo até volumes ensinando sua técnica anatômica no desenho, mas só se for anatomia humana, porque o gorila...
Eis a diferença entre um gorila rogartiano e um do mundo real:  

Um comentário:

  1. Se não me engano, nos livros do Edgar R. B. ele não fala em gorilas, mas grandes macacos. Mas o universo do escritor é confuso, ele nunca havia visitado a África antes de escrever os livros do homem-macaco. Nos desenhos do H. Foster também não aparecem gorilas. E o desenho que aparece ilustrando teu texto é do Joe Kubert http://diodatilodge.wordpress.com/2012/08/14/joe-kubert-1926-2012/
    Sou leitor assiduo do teu blog
    rekern@me.com

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