domingo, 22 de julho de 2012

Extrema esquerda: Prima Lúcia, tio Benedito e tia Cecília, Brasília?, 196?
Quase nostalgia 4
Da autobiografia não-autorizada de Che Guavira
Só liberada por causa da lei de liberdade de informação
Dos clubes de festa os maiorais eram o Suriã e o Sírio-libanês. As matinês carnavalescas eram muito animadas e a decoração caprichada. Com cerca de 9 anos quis ir de Super-homem mas tudo o que consegui fazer mamãe providenciar foi uma capa vermelha. Fui de sunga e a capa. De modo que ficou uma espécie de Super-Tarzã ou Super-homem adaptado ao aquecimento global. Já entrando no clube uma menina lourinha e sardenta começou a tirar o sarro. Achou muito ridícula minha fantasia: Que que é isso? Quá quá quá, essa capa! Ô, tio, vem ver aqui a fantasia dele!
Nunca mais quis ir de Super-herói.
Eu não conseguia me desinibir pra ir pular no meio do salão, então resolvi tomar um pouco de vinho. E fui! No baile no dia seguinte mamãe perguntou se eu queria tomar vinho de novo. Pensei um pouco e disse que não porque achei um contra-senso ter de tomar sempre que quisesse desinibir.
Antes que algum maldito moralista entre em cena, exercendo a tradicional patrulha ideológica, devo dizer que mamãe foi esperta. Assim já saberia logo se o filho começasse a beber.
Bebia algum vinho, em ocasião de festa. Natal, reveião. Nem por isso virei bebedor. Essa de que menor não pode beber é furada. Menor não deve entrar na bebedeira. Aliás, nem adulto deveria, porque queima neurônio e emburrece. Já uísque pinga, não entendia como os mais velhos gostavam. Achava forte demais. Ainda bem.
Uma vez passei um carnaval com minha tia paterna, em Ponta Porã. Ali tem um carnaval típico que não sei por que não se espalhou no resto do Brasil. Que divertido é aquela guerra de balões dágua! Vai chegando o Carnaval e a molecada corre comprar balões de látex pra estocar. Aqueles balões de aniversário, só que em vez de ar ou hélio se enche dágua. Se formam equipes com baldes cheios de balão dágua pra guerrear na rua como bolas de neve onde há neve. Passavam carros de passeio e viravam alvo na certa. Ai de quem esquecesse a janela aberta. Camiões e camionetes com equipe na carroceria, atirando balões onde passavam e recebendo balonadas também, verdadeiros cortejos carnavalescos, primos aquáticos dos corsos e tal. Algumas carrocerias viram piscina improvisada, e o pessoal já desfila molhando já estando molhado.
Claro que sempre há idiotas que põem líquidos que não são água. Até gelo. Mas aí já é assunto criminal. É com a polícia. E também os mal-humorados, que se ofendem com a brincadeira.
Por isso a brincadeira sofreu um baque nos últimos anos. Mas felizmente se providenciou áreas específicas à brincadeira, bem avisado pra quem passar: Foi porque quis.
 Quando cheguei não conhecia isso e meu primo se espantou de eu ir comprar aqueles carrinhos miniatura Matchbox, que eu era aficionado, em vez dos divertidíssimos balões de látex. Mas quando soube, não deu outra.
Uma viagem rodoviária ao Paraguai era uma festa aos olhos de criança. Como o país não fabrica carro, a variedade de importado era imensa. Tanto na estrada quanto na cidade se via modelo que nem se imaginava existir. E os ônibus então. Tudo lata-velha, montado, improvisado de toda maneira. Eram o que chamávamos camião caracachá, ou seja, improvisado, em mau estado e mau aspecto. Ao menos assim eu entendia. Não eram esses frente reta de Cômbi, do qual se diz que o pára-choque são as pernas do motorista, e sim com focinho, ou seja, com a frente saliente, montados a partir de camiões. Não se viam dois iguais.
Mamãe, paraguaia, dizia que antes o país era um golpe atrás do outro, muita instabilidade. Só quando Stroessner subiu é que tudo se estabilizou, com mão-de-ferro, mas também só a capital tinha vida. Assunção parecia Buenos Aires mas já a segunda cidade, Conceição, era como as outras: Vacas na rua, barro, pobreza. Era que Conceição era foco de oposição e porque pra manter o poder era mais fácil centralizar o desenvolvimento só à capital.
Nas estradas brasileiras o de se ver eram os camiões. Predominavam os Mercedes Benz, os bonitos Scania Vabis sempre vermelhos, e os FNM (Fábrica Nacional de Motores), que chamávamos fenemê. Os camiões fenemê eram os mais imponentes e assustadores, de frente alta, sem focinho, com as rodas de raias grossas e um forte barulho bem típico. Se eu fosse fazer um filme com camião assombrado, na certa seria um camião fenemê.
Até hoje o trânsito do Paraguai é de quarto mundo, bem caótico. Meu pai contava que quando foi diretor de trânsito, até 1977, quando Campo Grande não era capital porque era ainda Mato Grosso, e o órgão de trânsito era Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito), recebeu uma proposta do governo paraguaio. Era muito amigo do cônsul paraguaio, que o chamou pra propor um acordo com tudo pago, pra implantar lá o sistema de trânsito daqui. Assim o trânsito de lá deixaria de ser tão bagunçado. Estava tudo acertado mas a cúpula governamental, em Cuiabá, com inveja, vetou o acordo, que nunca mais foi retomado.

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