segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Os Inimigos dos Livros




Os inimigos dos livros
Um livro interessante é História universal da destruição dos livros - das tábuas sumérias à guerra do Iraque, de Fernando Báez. Mas abordarei aqui tópicos não abordados nesse livro.
Como todos os seres vivos, os livros sofrem preconceito, agressão, mutilação. Como toda criança, sofre  mau-trato, desleixo, abuso.
Quem nunca se revoltou com um livro cujo ignorante dono marcava a página com uma dobra, que sublinha trechos e mais trechos, usa a orelha como marcador de página ou restaura com fita adesiva? É um problema restaurar livro que foi restaurado com fita adesiva. Isso é feito por um leitor, com boa intenção, da qual o Inferno está cheio. Abomino o uso da fita adesiva pra restaurar livro porque na hora parece resolver mas depois vai soltando. Se a fita for de boa qualidade, tanto pior, porque pra restaurar com cola preciso soltar toda a fita que está soltando mas outra parte sai lascando da capa. Como a cola não pega na fita plástica a emenda ficaria pior que o soneto porque passando cola geral reforçaria o adesivo que está saliente, irregular. A restauração fica adiada a quando a goma apodrecer. Mais um paciente que não pode ser operado por causa do alto risco.
Já comentário em rodapé e dedicatória autografada é um complemento. Desde que não viole o texto ou ilustração, é algo que pode valorizar muito um exemplar.
O mais chocante é quando o autor da violência é o próprio livreiro, sebista. A coisa é tão grave que até quero abrir a campanha Não compres de sebista que pratica vandalismo!
É comum, tanto na loja quanto na internete, eu ter de reclamar dum adesivo posto numa capa de papelão. Nem sempre se consegue retirar sem sair uma lasca da capa que comumente é uma bela ilustração. O jeito é esperar anos, até a goma apodrecer. Então só ficará manchado. Menos mal. O pior é que o adesivo é de má qualidade mas a goma não. Assim o adesivo vai se rasgando em camada, melando toda a área. Há um tubinho igual de cola, especial pra retirar a goma, mas nem sempre a etiqueta sai toda.
Quando é um livro moderno, capa plastificada, não tem problema. Mesmo assim, se o adesivo tiver cola muito poderosa deforma a capa na retirada.
Não contente com o logotipo com telefone e endereço da loja põe outra com preço: Apenas R$ 10, bem grande. Tragédia em frente e verso, cara e coroa. Nas bancas a tragédia é ainda pior. Há gibis desgraçados que passam dum sebista vândalo a outro, ficando cheio de etiqueta, algumas sobrepostas.
Não só etiquetas mas também preço a caneta, carimbo, marca em relevo.
Aqui, em Campo Grande, tem um sebista assim. Reclamei e rebateu. Um amigo, colecionador, reclamou o tal disse que continuará pondo etiqueta porque assim venderá mais. Então por-que-diabo não vai vender parafuso ou pastel na feira em vez de livro?
Esse sebista é notório por não admitir livro espírita na loja. Mas se é tão mercantilista, pondo o lucro acima do bem cultural… O espiritismo é um obscurantismo que abomino mas a censura abomino muito mais.
Até mesmo compradores de topuer reclamam dessa goma maldita, imagine livro! Gibi, então!
A ignorância é tanta que os funcionários desse sebo recortam a tesoura a ponta da capa do gibi que estiver vincada, dobrando. Até mesmo pedaço grande! Verdadeira mutilação! Se tiver autógrafo, dedicatória, a caneta, vão lascando com fita adesiva até apagar, igual depilação a cera.
Já pensou se um livro autografado por John Lennon cair nas mãos desses vândalos-de-loja-posta? Já era! Apagarão tudo. Em 1993 lancei meu volume O castelo do medo lucinante. Em 1993 o encontrei nos sebos (até valorizado). Na dedicatória eu fazia versinho improvisado, tipo assim:
A Mônica
Pode até ficar atônita
lendo crônica
e até histórica cômica
Pois nesse sebo-vândalo fui rever meus autógrafos e constatei que a página estava apagada ou arrancada! Ainda bem que tudo o que produzo registro uma cópia.
Certos sebistas podem ser comparados a um novo-rico ignorante, que herda um casarão colonial e o reforma ou negligencia de maneira irresponsável. Quem mora em cidade histórica deve ter muito exemplo a apontar.
O livreiro precisa entender que não é dono do livro, apenas detentor. Livro é um bem cultural, um patrimônio da humanidade. É como uma criança, que podemos educar a nosso gosto mas sob limite. Pai não é dono da criança, não pode dispor como e quando quiser, podendo surrar, xingar, mutilar, matar. Está sob sua guarda mas não lhe pertence. O livro é como uma criança: Não pode se defender, é dependente.
É preciso uma lei que proteja os livros, não ficar só nessa de direito autoral. Atenção nossos políticos, que não têm o que fazer, pois só ficam se divertindo com leis esdrúxulas e bizarras. Precisamos tratar os mutiladores de livro como o que realmente são: Criminosos.
Noutro sebo o mesmo cenário trágico. O gerente disse que já orientou o pessoal mas que sempre tem um funcionário relapso. Ou seja: Nenhuma boa-vontade em resolver o problema. Eu disse perguntando como o vândalo se sentiria se fosse vender a casa e um pichador pintasse Vendo, telefone tal na fachada de tijolo exposto.
Cheguei à conclusão que, hoje, a banca é inimiga do livro.
Quando criança eu era muito gibizeiro. Depois fui derivando aos livros. Só nos últimos anos comecei a resgatar meu lado quadrinho. Quando descobri a revista Kripta e me empenhei em completar a coleção, pensei no fato de que na década de 1980 ela estava nas bancas. Por que não a conheci na época?
Há pouco soube do último número de Aventuras Disney, coletânea de Mancha Negra. Passou batido. Só depois, como usado, é que acessarei a coisa. Refletindo sobre isso concluí que a culpada é a banca.
Sim, as bancas estão superadas. São uma concepção de décadas passadas, na condição de vida da época. Hoje a banca é um cubículo desconfortável e muito apertado nas cidades grandes. Quantas vezes entrei numa banca? Passei décadas sem entrar. Tudo porque aquele cubículo apertado e abarrotado não é atraente. Ao contrário, muito repelente. O cara da banca bem ali, de olho, o espaço exíguo, os livros e gibis amontoados. Não é um espaço aconchegante. É como um posto de saúde, uma farmácia, lugar aonde se vai somente sob muita necessidade, se procurando ir embora logo.
A meu ver o fracasso do Aventuras Disney se deve à falta de visão, à insistência em se direcionar o produto às bancas, que há muito deixaram de ser freqüentadas pelas crianças e jovens. Fracassou porque não soube encontrar seu público-alvo. Porque manteve o estereótipo, a geopolítica de muitas décadas atrás. Não atentou à enorme mudança social e urbanística.
Não perceberam que o leitor gibizeiro não está nas bancas mas nos sebos.

2 comentários:

  1. CARO AMIGO, SOU UM AFICIONADO POR QUADRINHOS E ESSE ALMANAQUE DISNEY ME FAZ LEMBRAR MINHA INFANCIA. SEMPRE GOSTEI DO ALMANAQUE DISNEY PRINCIPALMENTE POR AQUELAS HISTORIAS QUE TRAZIA COMO ZORRO E 20000 LÉGUAS SUBMARINAS QUE ERAM MARAVILHOSAS. SE POR ACASO TIVER OUTRAS, POR FAVOR, DIPONIBILIZE PARA QUE POSSAMOS NOS DELEITAR COM AQUELAS MARAVILHAS. CONTINUE COM ESSE TRABALHO QUE COM CERTEZA É UMA DAS ÚNICAS OPORTUNIDADES QUE MUITOS HOJE EM DIA TEM EM CURTIR ESSAS OBRAS MARAVILHOSAS.
    UM ABRAÇO
    IVANILDO LIMA

    ResponderExcluir
  2. oi,estou amando seu site,estou encontrando aqui edições que nunca julguei ler na minha vida,gostaria muito de saber se você tem os almanaques da disney que tem a història: Alèm do abismo negro? Se tiver disponibilize por favor.Obrigada. Beijos

    ResponderExcluir