segunda-feira, 10 de agosto de 2015

(facsímile)
Grato a don Guillermo Guedes Ortaneda, director de la casa museo Ricardo Palma, la donación del ejemplar en papel y autorización a lo digitalizar y publicar
Interesante libreto contando la aventura del proyecto de transformar en museo la casa donde moró el escritor Ricardo Palma. Es un histórico breve, narrativa sencilla, de agradable e instructiva lectura. Aun más con trechos de un rarísimo libro de la era colonial, al cual Ricardo tenía mucha estima. 
Tradução de Che Guavira
Grato a dom Guillermo Guedes Ortaneda, diretor da casa-museu Ricardo Palma, a doação do exemplar e autorização a o digitalizar, traduzir e publicar
Interessante libreto contando a aventura do projeto de transformar em museu a casa onde morou o escritor Ricardo Palma. É um histórico breve, narrativa enxuta, de agradável e instrutiva leitura. Ainda mais com trechos dum raríssimo livro da era colonial, ao qual Ricardo tinha muita estima. 
Da autobiografia não autorizada de Che Guavira
A sumidade peruana ● O patriota recompôs a Biblioteca Nacional saqueada ● Um livro raríssimo ● O filho também é um grande autor ● Lima e Calhau são as cidades dos museus ● Uma tarde aprazível● Livros recomendados ● Mas Deus não era brasileiro? ● Um mercado editorial muito mais interessante
Bem perto do hotel, rua General Suárez 189, Miraflores, fica o museu Ricardo Palma. A entrada custa 5 sóis, cerca de 5 reais. É a casa onde morou, que após muita peripécia contada no livro acima, foi transformada em museu em honra a quem foi a maior sumidade literária peruana, autor da referência máxima em literatura peruana, Tradições peruanas, cujo exemplar que possuo foi comprado aqui, no sebo Hamurábi.
No museu fui guiado por dom Guillermo, o diretor. Primeiro é exibido um vídeo sobre a vida do escritor. Ali conta que na guerra do Pacífico os chilenos (mercenários, como sole ocorrer nos conflitos) invadiram Lima, saquearam a Biblioteca Nacional e incendiaram Miraflores. Então Ricardo Palma se empenhou em mendigar livro pra recompor o acervo da entidade.
O único ruim é que Ricardo Palma morou a uma rua hoje muito movimentada, de modo que de vez em quando o ruído dos carros abafam o som do vídeo.
No Peru contam que os chilenos atacaram por ser uma faixa estreita muito pobre, pra se apossar das riquezas, especialmente o guano, esterco de ave e morcego, com alto teor de nitrogênio.
Diferente do chileno, o peruano não cultiva aquele ranço de rivalidade. Ao menos a nível popular. Diz que a única vez que teve séria ameaça de retomada da guerra foi nos anos 1970, durante governo militar, quando um general queria de qualquer maneira atacar pra retomar as províncias perdidas. Conforme explicou o guia do museu militar, a bandeira peruana ostenta um galho de louro. Duas folhas estão com a ponta dobrada a baixo, como com a ponta quebrada. Isso representa as duas províncias perdidas na guerra do Pacífico: Arica e Tacna. Daí já dá pra ter uma idéia do luto no sentimento nacional.
Os chilenos reconhecem que se o Peru tivesse atacado arrasaria o Chile. Por isso espernearam a todo lado, pedindo até ajuda ianque pra garantir a paz.

Percorrendo os aposentos da casa de Ricardo Palma vemos quase todos os móveis originais, quadros, livros. Os livros preferidos estão ali, na estante. Tem até o recipiente onde guardava a água, que era comprada, pois Lima fica num deserto (Fico pensando: O que deu na cabeça pralguém ter a idéia de construir uma cidade, ainda pior, capital, em lugares como Lima e Brasília?). Vitrinas com livros, mapas, gravuras.
Dom Guillermo contou que um brasileiro ficou tão encantado com Tradições peruanas, que resolveu traduzir. Que disse que em dois anos terminará. Este, 2015, é o segundo ano. 
Dom Guillermo e o tradutor de Tradiciones peruanas
No quadro acima, Ricardo Palma
Ali adquiri os dois volumes da obra completa de Clemente Palma, filho de Ricardo Palma, que enveredou na ficção do conto fantástico ao estilo de Poe, Lovecraft, Maupassant, pois competir na área literária sulcada pelo pai seria inviável. Foi uma bela descoberta, além do assombro de constatar que autor excelente assim não aparecer nas antologias brasileiras e portuguesas.
No final conversamos um tanto e me deu dicas sobre outros museus a visitar, tirou fotos pra enviar ao imeio, já que eu não estava com minha máquina, e me levou ao museu Raúl Porras, vizinho, uma quadra depois, que é entrada franca.
Lima, e também Calhau, é repleta de museu. Há museu de todo tipo que se imagine. Fui num do submarino, que contarei mais a diante. Também não são de jogar lixo na rua. Raro alguém jogar papel de bala, sacola de supermercado, garrafa pete. E o valor que dão a suas grandes personalidades é fora-de-série. Nesses dois pontos estão muito mais civilizados que nós.
Aqui não. Os intelectualóides daqui tentam é lançar modismo, denegrir a imagem, como fazem contra o escritor maravilhoso que é Monteiro Lobato, enquanto continuam cultuando falsas sumidades. É muito mais fácil e cômodo que lutar pra criar um museu.
No museu Raúl Porras dom Guillermo ficou um tempo junto com a administradora senhorita Rocío, mostrando as seções da casa. Numa sala estava uma das personalidades da cidade, Pedro Gjurinovic, pesquisava historiografia.
 Senhorita Rocío mostrou cada aposento do museu com abundante explicativo. Também uma casa-museu, onde morou o mestre, historiador e diplomata peruano, é um centro de alto estudo e investigação, onde se realizam encontros e palestras. Numa sala há retratos de família em quadros gigantes, tamanho natural, e os móveis protegidos por cordões de isolamento como os de aeroporto. E profusão de livros, álbuns de fotografia pois como dom Pedro II, Raúl era aficionado a fotografia. Folheei um, fotos de tamanho grande, tons de cinza.
Na noite seguinte fui a uma daquelas palestras, mas me enganei. Não era naquele dia mas no seguinte. Assim na correria dos passeios não deu tempo de ir.
Assim o que seria uma rotineira visita a um museu ficou parecendo uma reunião de amigos num nebuloso e agradável dia de junho.
Os dois primeiros dias usei visitando os sebos de Lima. Preferi ser mais moderado na compra pra não enfrentar o imprevisível e volúvel da política de excesso de bagagem da aerolinha. Mesmo porque seria impossível visitar tudo, pois creio que a quantidade de Lima parece ser muito maior que a de Bogotá, que já é coisa formidável.
Segundo o sexto item no dicionário da RAE, real academia espanhola, jirón (que também significa babado (de tecido)): 6. m Peru. Via urbana composta de várias ruas ou segmentos entre esquinas.
No primeiro dia fui ao jirão Quilca. No segundo iria ao jirão Amazonas, mas o taxista disse que o Amazonas é menos seguro, com problemas de assalto. Claro que mais durante a noite e anoitecer mas como acabo saindo no fim de tarde, e como o Quilca é imenso, passeei de novo lá mesmo.
As zonas livreiras de Lima são ainda mais impressionantes que as de Bogotá. Livrarias e mais livrarias, uma ao lado da outra. Uma que é um cubículo, outra uma loja inteira, noutros pontos uma galeria cheia de barracas de livro. Imagines um rato-de-sebo como eu: Feliz como pinto no lixo.
Ali vi Protocolos de los sabios de Sión, El hombre que calculaba (de Malba Tahan), Dios es peruano (de Daniel Titinger).

— Mas no Brasil sempre se disse que Deus é brasileiro. Agora diz que é peruano…
Um, que comecei a ler no hotel, antes de dormir, excelente obra também desconhecida por nós, é Cuentos andinos, de Enrique López Albújar. Outro é um libreto em forma de revista, uma curiosa publicação espanhola sobre mistérios e enigmas do mundo, Historias del Más Allá (Histórias do Além). Os preços de livro em Lima estão melhores que em Bogotá.
Uma livraria muito barateira foi a que achei logo de cara, de J Luna Victoria, jirão Quilca 233 (fundo). Com todo tipo de livro, em bom ou mau estado, muitos a 1 sol.
Ali, conversando com os vendedores, um disse que finalmente o Brasil resolveu enxergar seus irmãos sul-americanos, já que até então se manteve de costas.
A frase deu uma sensação de que se sentem desamparados. Eu disse que isso era porque até então Estados-Unidos conseguia impedir, mas que agora, se sair mesmo a tal ferrovia intercontinental (que não sei por que disseram interoceânica, se não atravessa o oceano) ligando Rio de Janeiro a Lima, a coisa se acelerará. Falei sobre a Transamazônica, que não deu certo porque foi feita em área meio movediça. Será que não sabiam? Foram fazendo sem verificar se o solo tem sustentação? Eu, hem!
Evo Morales está bravo porque a ferrovia não passará na Bolívia. Mas também, depois daquela palhaçada contra a Petrobrás, quem teria coragem?
Falamos sobre a guerra do Paraguai, pois veio com o chavão país pequenino atacado por três. Eu disse que posso contrapor a essa visão outra oposta, pois minha mãe e tias são paraguaias. Conheço, pois, os dois lados. Assim também comparamos as versões de cada lado sobre a guerra do Pacífico, onde eu disse:
— Toda discussão tem três pontos de vista: A minha, a tua e a verdade.
A região do jirão Quilca se parece muito com a da Candelária de Bogotá: Ruas estreitas, a arquitetura e a profusão de gente. Só não tem as acentuadas ladeiras de Bogotá, não tem o problema da altitude, e as ruas têm nome em vez de número.
No anoitecer o pessoal nem tinha olhos pro freguês. Estava todo mundo acompanhando o jogo do Peru na copa América, torcendo praquela seleção cujo uniforme parece o do Vasco da Gama. Claro que ali eu era peruano desde criancinha. Quando voltei à livraria de dom Luna, pois armei ali meu quartel-general, só estava ele ali, já fechando, pois o resto do pessoal saiu mais cedo pra ver o jogo. Me ajudou a chamar um táxi. Não foi difícil quanto no dia seguinte, quando quase todos se recusavam a ir a Miraflores por causa da distância e do trânsito em hora de pico.

Não freqüento livraria de livro novo, só sebo. Mas em Lima vi que é melhor eu reformar um pouco esse costume. Nas longas esperas em Guarulhos, visitando as livrarias do aeroporto, só encontro uma profusão de bestséler, quase tudo lixo. Nenhum livro que eu diga que é imperdível ou interessante. Mas um passeio na livraria El virrey, Bolognesi 510, Miraflores, e se acham muitos livros maravilhosos.
Achei Seres mágicos del Perú, de Javier Zapata Innocenzi, editora Malabares, em volume grande, capa dura, praticamente uma enciclopédia do tema, uma obra de arte onde o texto se mescla com ricas ilustrações.
 
Também da Malabares, coleta de Javier, os três volumes de Relatos mágicos del Peru, em pequeno formato, coletânea de relatos fantasmagóricos vividos por pessoas comuns, vindos das mais diversas regiões do Peru, bem ao estilo Incrível, fantástico, Extraordinário!, de Almirante.
 Outra beleza, também em formato grande e capa dura, de Tómas Unger, Crónicas miraflorinas. Pouco antes, procurando reunir os 5 volumes, achei em Campo Grande, também grande e capa dura, de Paulo Coelho Machado, os 5 volumes em 1 de Nas ruas de Campo Grande (Infelizmente na capa ostentando esse errado português de jornalista: Pelas ruas de Campo Grande.
Alguns dos temas que gosto muito são aqueles relatos anedóticos, muitas vezes causos, coletados numa atividade profissional ou não, de eventos engraçados, gafes, etc. Também relatos folclóricos sobre tipos populares, histórias de ruas ou bairros. E também os tais relatos fantasmagóricos acontecidos a alguém e que os racionalistas exaltados insistem em depreciar. Tudo isso não conseguia achar nos sebos mas encontrei na El virrey.
 Queria achar algo sobre lugares encantados ou aparições fantasmagóricas em Lima, pois na livraria Contracultura, avenida Larco 986, Miraflores, achei Lugares encantados y misterios de Lima, de Irene Corzo Buendía, obra bem detalhada, com mapas e fotos dos lugares relatados. A assombrada casa Matusita está preste a virar filme.
Então posso afirmar sem erro: No plano editorial o Peru está muito, muito, mas muito melhor que o Brasil. Imagino que no cinema também devem estar muito melhor.
Parece que no cinema também estão num momento cultural melhor que o nosso.


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