domingo, 28 de setembro de 2014

Escaneei este número presenteado por Joanco. Escaneio facilitado porque estava encadernado e foi desencadernado, ficando as folhas soltas.
A revista era tão popular que inspirou o nome duma escola de samba, a X-9 Paulistana, cujo refrão é X-9, seu verde, vermelho e branco. Contigo a tristeza espanto e canto até o sol raiar. Deixes a X-9 passar.
Tem novelas em capítulo e contos. Eis um excelente conto curto extraído da revista:

segunda-feira, 22 de setembro de 2014


Mais uma do Joanco
As estórias com mais qualidade que costumeiramente
Torci pro Coelho mas não tem jeito. O fim é sempre moralista.
O conto do boato chega a ser educativo
Quanto aos heróis, assim com tantos super-poderes, até eu! Com tantos poderes assim, até que são enrolados demais pra resolver a coisa!
O tal do Homem-espelho ficou estranho. Não tem muito a ver com espelho. Bem mal bolado.
Conto contido na revista:
À coleção Adeene neles!

Dom Félix, dono do sebo Torre de Babel, com Michel, sua pupila bolsista, e seu funcionário
Crônicas bogotanas
Da autobiografia não autorizada de Che Guavira
Capítulo 2
Os bogotanos têm muito a nos ensinar de solidariedade e calor humano Choque cultural e ciclo vicioso Sobre chilenos, argentinos e espanhóis Harmonia no trânsito Meu paraíso e o de Borges Livro, pra que te quero?, ler Excesso de bagagem × transportadora
A impressão que deu é dos colombianos estarem um degrau acima no item civilização em alguns aspectos. Nos centros comerciais há banheiro pago. Se paga tipo 50 centavos e se passa uma roleta após a atendente dar um pedaço de papel higiênico. Aperto não é assunto de polícia.
Decerto naquelas bandas ultra-Amazônia a mentalidade do povo é muito diferente. Tive a impressão de que não há aquilo do trabalho como uma maldição, tão arraigado na cultura brasileira, que é escravista por excelência. Nada daquele sentimento de olhar o relógio torcendo pro expediente acabar, chegar logo o fim de semana. Era como se estivesse noutro planeta.
Parece uma terra ainda não contaminada pelos obscurantistas. Se trabalha de bom-humor, com feição sorridente. O trabalho parece ser uma bela parte da vida, não uma maldição da maioria que não ganhou na loteria.
Começo falando do hotel, pequenino, sem fachada indicativa. Fiquei surpreso ao ver que ficaria com a chave, não a entregando à portaria ao sair. Assim o hóspede entra abrindo o segundo portão, pois o da rua não é trancado, a porta da portaria e o quarto.
A dona do hotel me tratou como a um familiar. Foi a fundo pra resolver o problema do cartão e as opções de bagagem. Estava muito preocupada em que eu não pagasse muito caro pra trazer os livros que comprei, cerca de 70kg. Por isso me deu endereços de transportadoras e pesquisou as condições de excesso de bagagem no avião.
Também o taxista, que apenas presta serviço ao hotel, foi muito solidário também nesses dois pontos, e me acompanhou no embarque até o fim.
Em todos os sebo aonde fui, o atendimento não tem aquela indiferença cortês, aquela impessoalidade à qual estamos acostumados. Se percebe um bom-humor e solicitude que encantam.
No final da compra, se irei pegar um táxi, o atendente me ajuda a carregar a caixa várias quadras aonde mais passam os táxis e fica esperando junto, mesmo avisando que não precisa, que pode voltar a seu afazer. E isso não numa mas em todas as lojas.
No sebo Torre de Babel, onde fiquei mais tempo, notei bem os funcionários sorridentes, também entre si, não o sorriso pro cliente. Fiquei horas plácidas ali. Parecia estar hospedado na casa duma família e não comprando num sebo. Muito diferente daqui, onde mais parece um quartel.
No sábado convidei a garota do sebo pra almoçar. (Ai! Já vão os leitores pensando coisas...Bom... Se fosse uma brasileira esse convite já seria uma dificuldade). No final deixou um terço do camarão, pra levar aos colegas provarem.
Aquilo me deixou pensativo. Se fosse aqui, uma brasileira... Impensável. Se o fizesse os colegas diriam que é bobinha, boazinha, tanto nossa cultura está viciosa, cheia de malícia e maldade. Não. Uma brasileira não o faria.
Parece uma irrisória diferença cultural mas o resultado é que tomamos um café que é lixo, nossos empregos são um pesadelo, os políticos só querem tirar vantagem e praticamente tudo o que compramos é falsificado.
Me lembro que muitas vezes no trabalho eu procurava criar um clima de mais coleguismo. Me lembro que levar um quitute de vez em quando não contaminava os outros com a idéia.
Quando estagiário eu estava num clima tão positivo, que ajudava aos colegas, já pegando o que estava no caminho. Uma colega disse Como és bonzinho! naquele tom irônico. Nunca se é um cara lega, gente-fina, sempre bonzinho ou bobinho. Tal é a maldade de nossa cultura viciosa, rançosa, putrefata. O Murro das lamentações está certo.
Me lembro de quando fiz um curso cuja aula era uma vez por semana. Alguns começaram a levar um quitute por vez mas infelizmente éramos poucos os que se dispunham. Mesmo uma colega casada cum dono de frigorífico não se dispôs a entrar na roda. Fiz a conta: Éramos 30. Alguém teria a vez novamente só depois dalguns meses. Mas é como diz aquele provérbio: Basta que um homem seja irracional pra que todos os outros sejam, e o mesmo aconteça ao universo.
Era a isso que se referia o primeiro-ministro chinês, quando disse que é preciso mudar a cultura do povo: À lei de Gérson, ao esnobismo, à malícia e malandragem. Mas infelizmente só uma força externa pode desmanchar esse ciclo vicioso.
Foi minha impressão. Se quem morou lá não concorda, que comente. Postarei aqui.
Nas lanchonetes o atendimento varia. Tem os bem expresso, sem atenção nem simpatia, até os excelentes.
Taxistas há de todo tipo, até dos que não deixam o cliente no endereço exato.
No trânsito poucas diferenças. Não tem essa de quando o carro vira esquina a preferência é do pedestre. E gostam de buzinar. Sempre que abre o sinal e o da frente atrasa 1s, já se dá uma buzinadinha discreta, simples bip. Parece que é cultural. Só pra avisar, caso o outro esteja distraído. E o da frente não se incomoda. Não dá impressão de estresse ou irritação. Nos 10 dias, andando a todo lado, não vi xingamento, irritação, nada. Mesmo nas vias que cruzam as de exclusivamente pedestre, apinhadas de gente, a relação pedestre-motorista é harmoniosa.
Nas amplas calçadas das avenidas centro-comercial tem faixa-ciclovia. Não é como as ciclovias daqui, asfalto, mas uma faixa na calçada mesmo. O pessoal se distrai e acaba andando ali, mas isso também não gera conflito.
No geral o trânsito é como o daqui ou como o do Chile. Não é a zorra do Paraguai. Meu pai, Aydil Peixoto Vargas, foi diretor de trânsito até 1977, da ciretrã daqui, quando aqui era Mato Grosso. Era amigo do cônsul paraguaio, que também morava na vila Alba. O cônsul lhe transmitiu um convite do governo paraguaio pra implantar o sistema daqui lá, e assim organizar o trânsito paraguaio. O comando de Cuiabá, com inveja porque o convite foi feito diretamente, não deixou. Por isso o trânsito paraguaio é assim até hoje.
Conversando com o funcionário dum sebo lá: Ai!, mas argentino... Apertou os lábios e balançou a cabeça, naquele gesto de desgosto.
Ainda não encontrei quem diga gostar dos argentinos. Talvez em Buenos Aires se encontre.
Almoçando no La gran comida criolla (Esse recomendo e quero voltar), especialidade em comida típica colombiana, pescado e marisco, rua 15 10-16, uma senhora pediu licença pra ficar na mesma mesa, pois faltava lugar. Disse que a comida colombiana é muito farta. A mesma idéia de dona Adriana, de que os peruanos são os que melhor falam o castelhano. Não sei se é um estereótipo, tipo de que o maranhense fala melhor o português. Que os espanhóis são muito grosseiros, falam muito palavrão. Que os chilenos são muito arrogantes.
Bom... Dos amigos chilenos não diria, mas... arrogante conheço uma.
Do restaurante Saint Just, bem recomendado na internete, bom mas não me encantou. Comida francesa, atendentes bilíngües (castelhano-inglês). Pra comida francesa esse foi excelente, porque comida francesa consiste em cortar umas rodelas de tomate, jogar um patê encima, enfeitar cuma folha de menta e outra coentro e uns grãos de ervilha mais uns fios de cenoura e beterraba e se cobra um preço astronômico. Comida francesa é pura firula.
Cadê o latim, grego, aramaico, francês? Até o alemão já ascendeu a língua mundial. Logo esse maldito inglês sairá de moda, pois, Iazul!, tudo passa!
Diz que Borges concebeu o éden como uma biblioteca infinita. Eu diria um sebo infinito.
Passar o dia num sebo gigantesco e uma garota bonita trazendo café (Claro, se fosse tereré seria melhor). Isso é o Paraíso!
Pedi café com aroma de mulher (Café com aroma de mulher é o nome da famosa telenovela colombiana).
Eu nunca chegava aos maiores sebos porque não parava de encontrar os menores no caminho. Como em São Paulo, eu nunca chegava ao Messias porque ia parando nos outros no caminho. No centro, perto do museu do Ouro, sebos em toda parte, um ao lado do outro, sem falar nos camelôs estendendo livro sobre pano na calçada. Impossível visitar todos em dez dias. Os maiores, Torre de Babel e Merlín, com três andares. No quarto do Torre de Babel é o depósito.
Cheguei ao Torre de Babel porque estava no Feira do livro, que é de sua sócia, que me remeteu diretamente até lá.
No Messias o pessoal atende com cortesia fria e distante. Me apresentei como cliente que compra sempre via internete-correio, por isso tenho cadastro e quero enviar os livros via correio. O dono nem me olhou na cara. Parecia atender a um pedinte. Na rampa ao subsolo um aviso de entrada só pra funcionário.
No Torre de Babel o dono parecia receber um velho amigo. Me mostrou, andar a andar, as estantes com os respectivos temas. Mal passava duas horas e vinha a garota com a baita taça de chope com café fumegante. E não tem área restrita. Pude garimpar livremente até no depósito.
Nos andares desse sebo há no fundo espelhos do tamanho duma porta, tão bem polidos, que dão a impressão que a sala continua. Era só me distrair e quase trombava nesses espelhos.
O mesmo clima nos outros sebos. Uma simpatia natural, muito diferente de sorriso de vendedor.
No sábado, quando em segunda vez no Torre de Babel, o dono mostrou a mim um livro de medicina de 1700 e lá-vai-pedrada, dizendo Este livro vale 3600 dólares! Mais tarde, via telefone, explicou, a uma cliente, que os livro técnico velho não tem mercado porque estão superados, exceto os muito antigos, pelo valor histórico.
Depois chegou sua sócia acompanhada duma adolescente. Disse:
— Aqui temos a universidade dos Andes, que é a mais prestigiosa, cara e concorrida do país e que concede bolsas a estudantes que se destacam. Consegui uma bolsa pruma dessas estudantes, que é esta garota.
A uma mesa e lousa portátil um professor ensinava trigonometria à garota.
Sem dúvida: O livreiro não é do tipo vendedor de parafuso.
No hotel, um chileno disse que no Chile o imposto sobre os livros é muito alto. Deve ser por isso que nas torres de Tajamar são caríssimos.
Felizmente temos erva-mate de qualidade. Por isso ainda vale a pena tomar tereré. Mas com a Coca-cola comprando tudo pra fazer seu triste mate gelado, o preço subiu e logo a erva fará mal à saúde. Cada um que plante sua árvore.
Nas transportadoras o valor pra trazer 25kg de livro é de cerca de 800 mil pesos, cerca de R$ 963. mais que o valor da compra.
A condição do excesso de bagagem Lan é muito confusa, tanto na internete quanto perguntando no aeroporto. Parecem fazer questão de deixar confuso. Uns diziam que um pacote não poderia passar de 50kg mas na hora de embarcar diziam que melhor seria um só pacote. Isso porque foi insistentemente pesquisado. No fim o excesso, cerca de 70kg, custou 395.050 pesos, cerca de R$ 475,50. Imagines o quanto seria via transportadora!
Estranho na nota não aparecer o peso.
Na esteira recebi muita ajuda pra lidar com as caixas. Em Guarulhos um funcionário, vendo as caixas enormes, ajeitou uma conexão imediata, evitando muitas horas de espera. E o taxista também tinha espírito bogotano.
Talvez essa diferença cultural não seja tão grande assim.
 Quanto às aeromoças, comissárias, etc. Não entendo por que dentro do avião são tudo sorriso e mesura mas no balcão, quanta diferença! Parece que tomaram sorvete de chiclete. Ô mulherada mal-amada!


sábado, 20 de setembro de 2014


A nova página do projeto Lovecraft e de O rei de amarelo não suportou tanto acesso

O sítio saiu do ar!
Amigos
Tivemos um problema com o servidor. Mais de 1000 pessoas acessando o sítio ao mesmo tempo! Não teve jeito: A casa (o sítio) caiu!
Então se tentares acessar www.editora-clocktower.com.br provavelmente serás redirecionado a uma página de limite de CPU excedido. Mas não vos preocupeis, pois temos solução. Nos próximos dias o sítio voltará ao ar.
Se não conseguiste te inscrever no hangout de lançamento do site, envies um imeio a editoraclocktower@gmail.com com o título inscrição, e te adicionaremos a lista dos participantes. Confirmados mais de 300 participantes. Então não deixai de vos inscrever!
Compartilhai essa nota o máximo. É importante que todos saibam o que está acontecendo.
Bons pesadelos! ;)
Eduardo Costa

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Da autobiografia não autorizada de Che Guavira
Capítulo 1
De como Che Guavira foi parar no país do cata-vento Aventuras, venturas e desventuras com muita desenvoltura e jogo-de-cintura na terra do livro e do café Foi preciso ir tão longe pra saber o que é café de verdade! Falemos de mulher bonita Calientes bogotanos Os bogotanos têm muito a nos ensinar de solidariedade e calor humano
Ao ler, no Murro das lamentações, que Bogotá é a terra fabulosa dos livros, fui até lá pra conferir.
Já no aeroporto vi que a senha do cartão internacional fora mudada. Corri à delegacia de atendimento ao turista, pra telefonar ao número no verso mas parece que a atendente ligou ao primeiro número, atendimento a outro país, e a ligação caía. Tive de deixar pra resolver na chegada. A novela mexicana do cartão será contada noutro capítulo.
Sorte que tive a idéia de retirar o máximo, 1000 reais, num caixa eletrônico e converter a dólar, o que me deu uma sobrevida enquanto a novela corria. Em Guarulhos fui a um quiosque de câmbio cuja atendente, Márcia Silva, é sósia de minha antiga correspondente chilena Maria Paz. Até a linha divisória do cabelo, mais à esquerda. Só via que não era porque falava português sem sotaque.
A Colômbia é um país cujo mapa tem a forma dum elegante cata-vento. Observando bem se nota que é uma suástica dextrógira, exatamente o oposto da suástica nazista, que é sinistrógira. A suástica dextrógira é um multimilenar símbolo benéfico, de energia vital. Guardar bem este dado, pra conceitos no capítulo 2.

Distância em linha reta Campo Grande–São Paulo: 896km
São Paulo–Bogotá: 4324km. Total: 5220km.
Bogotá fica num altiplano, 2600m acima do nível marinho, por isso é chamada a cidade da eterna primavera. O clima é tal qual o de Campo Grande no inverno. Nos dez dias ali, 14 a 23 de agosto, só fez frio no domingo 17, com finíssima garoa. No restante um frescor agradável, típico clima serrano.
O aeroporto se chama El Dorado, pois lá também tem essa lenda. A lenda do Eldorado é a lenda nacional colombiana. Tanto que o principal museu da capital é o museu do Ouro, onde li, num painel, que o sujeito que era polvilhado de ouro em pó não era simplesmente enfarinhado, como lemos sucintamente na lenda, mas esfolado e banhado com piche ou betume, não me lembro bem, pra aderir o ouro em pó. Não era só enfarinhar de ouro e mergulhar no lago. A coisa era mais cruel. Espécie de versão pré-histórica do trote de dar banho de melado, jogar pluma e fazer dançar a dança do Passarinho.
No Brasil essa lenda também é marcante, sempre presente nas antologias de lenda. Tanto que a palavra eldorado entrou ao português no sentido de terra prometida de imensa riqueza. A expressão Encontrar o eldorado significa Encontrar o mapa da mina. No extremo sul de Mato Grosso do Sul tem uma cidade chamada Eldorado. É um dos sete municípios abaixo do trópico de capricórnio, portanto fora da zona tropical. Fundado em meado de 1954 pelo astrólogo Omar Nunes Cardoso, recebeu o nome Eldorado por ser terra de grande riqueza explorável. Antes de receber esse nome o pequeno povoado se chamava Colônia Velha.
Na Colômbia também tem a lenda da Mãe-dágua (Madre de Agua). Só que a iara colombiana usa cinto-de-castidade!
Tem também a Chorona (La Llorona), que é tipicamente mexicana e que tem até filmes mexicanos com a personagem.
Tem a lenda de Pilcuán, espécie de hércules andino que matou uma serpente emplumada que é uma simbiose de nossa Boitatá com a hidra de Lerna.
E uma infinidade de seres fantasmagóricos do folclore nacional.
As assombrações folclóricas são muito eróticas e nuas, tudo bem retratado nas compilações de lenda. O que mostra que é uma cultura bem menos contaminada pelo puritanismo do branco católico ou ianque, o que a faz imensamente interessante.
No aeroporto a esteira de bagagem é mais moderna, ampla e inclinada. O bom é que não teve, à saída, o pessoal abrindo bagagem, como no Chile. Colômbia 1x0. Parece que lá não tem a paranóia chilena de entrar zoonose ou algo assim.
O carrinho disponível pra pôr a bagagem não é gratuito, custa 2 dólares. Í! Bola fora! O resultado é todo mundo com mala de rodinha.
Também não tem vã coletiva pra ir do aeroporto ao hotel, mas em táxi dá no máximo 25.000 pesos, cerca de 25 reais.
Os chilenos respondem a tudo Djá. Quer dizer sim, pronto, muito bem. Depois do Obrigado, o brasileiro responde De nada. O colombiano costuma responder Con mucho gusto.
E se faz tudo com muito gosto, mesmo. Não precisa muita indicação de restaurante. Ao acaso se acham serviços excelentes. O difícil é cair num mais-ou-menos. Os preços não são altos como aqui e as porções generosas. O atendimento, então, é excelente.
Em São Paulo, em julho, no primeiro restaurante aonde fui, no centro, ganhei uma tremenda dor de barriga que durou dois dias. Só no terceiro dia pude passear sossegado. Nos dez dias em Bogotá experimentei tudo o que aparecia: Restaurantes chiques ou populares, salgadinho em qualquer esquina, e nem um desarranjo. Nada.
Mas pitaia, nada mais que uma variedade de tuna ou figo-da-índia muito melhorado, tem de comer pouco, porque é laxante.
O guanábano é a graviola (Annona muricata). Um fruteiro, com carrinho estacionado na esquina, vendia helado (sorvete) de graviola, a polpa com semente com creme-de-leite, num pote, servindo num copo cuma concha, dando uma colher de plástico. Servia também suco de chontaduro, que é uma pupunha avermelhada.
Outra fruta exótica é o mamoncillo, parecendo uma guavira grande, cuma semente grande, polpa bem amarela e forte sabor adocicado.
Granadilla é um maracujá muito doce e suave. Mora (amora) é grande e azeda.
Guayaba (goiaba), aguacate ou palta (abacate) e piña (abacaxi) são outras frutas comuns cá e lá.
Nem sombra de água-de-coco.
Almocei no excelente restaurante Puerta de la catedral, perto do museu do Ouro. A espiga de milho tem os grãos maiores e mais tenros, dum amarelo mais claro. O feijão também é mais grosso. Sempre uma fatia de abacate acompanha a porção.
Quando cheguei fui jantar num restaurante próximo. Pedi bagre, que foi acompanhado duma porção de arroz, mandioca e batata fritas, limão e uma xicrinha de ají, um molho a vinagrete apimentado muito bom.
Não vi pimenta curtindo em pote de vidro, in natura nem molho vermelho.
Aqueles tubos comumente com quetichupe, pimenta, mostarda, normalmente tem vários. Um parecia ser vinagre mas era muito denso. Era mel! Taí uma surpresa agradável.
Noutros lugares os tubos tinham mostarda, polpa de abacaxi e doutras frutas.
Na área perto do museu do Ouro uma lanchonete anunciando salgadinho mexicano. Uns tubulares. Gostoso e diferente. Algo que o visitante não deve deixar de experimentar. Até agora todas as vezes que experimentei comida mexicana (uma vez tex-mex em Curitiba) valeu a pena.
De salgadinho (no caso, agridocinho) tem a arepa, em forma chata e em forma de bola, que é adocicada, bem sem-graça. Bem bom é a papa, um grande croquete de batata recheado com arroz-carreteiro e ovo cozido, que se destaca nas vitrines parecendo salpicado com quetichupe. No geral são empanadas, nada mais que variações de esfirra. Se usa muito recheio com arroz, charque, ovo e yuca (mandioca).
Já um restaurante galego era quase só batata.
Cuidado pra não pedir a sem-graça batata cozida ao vapor decorada com queijo derretido.
Caí nessa de experimentar os desconhecidos, yuca e papa, tal qual quem chegou ao nordeste e pediu coisas bem exóticas e desconhecidas: Jerimum, aipim e macaxeira.
Quibe frito só vi numa delicatéssen.
Junto aos salgadinhos há ovo cozido. A vendedora descascou um pra mim. Infelizmente o brasileiro tem muito preconceito contra o pão e o ovo. É que a fartura é mãe da frescura...
Coisa estranha é caixa eletrônico na calçada, diante da rua mesmo, aberto, encostado no muro.
Lá também tem muito panfletista de propaganda, distribuindo propaganda de garota-de-programa, estripetise, etc. Numa lanchonete escolhi uns sabores de empanada pra levar. No fundo da sacola tinha um desses panfletinhos eróticos: Chicas complacentes, etc. O pessoal não pode ver a gente andar sozinho e já acha que é turista sexual.
Só achei difícil achar boas barras de chocolate.
Eu estava no sebo Torre de Babel. Enquanto garimpava nos 4 andares mal passava uma hora e alguém vinha de novo com aquela grande taça de chope cum líquido preto tampado com película. Não era cerveja preta mas café.
— Ai! Café? Detesto café. Até o cheiro me enjoa.
Em ocasião assim tomo um pouco. Experimentei aquele café amargo.
— Nham! Mas não é que este treco é bom? É diferente mas é café! Este sim, merece ser cantado naquele samba-enredo do Salgueiro: Gostoso como um beijo de amor.
Que coisa tão diferente do carvão sabor café daqui. É suave, o pó tem cor de chocolate. Comprei um pacote de café gurmê no museu do Ouro. O pó tem cor de amora em pó. Nada a ver com o carvão que conhecemos. No aeroporto os pacotes são mais baratos mas são outros rótulos.
Tive de ir a Bogotá pra saber o que era café. Igualmente nunca gostei de cerveja. Só vi o que era quando experimentei importada. Kaiser, Antarctica, Brahma, etc, nem de graça, pois meu estômago não é lixeira. Um dia experimentei uma latinha de Crystal e cuspi fora. Parecia feita com soro de coalhada!
O Brasil produz excelente café mas exporta tudo. A melhor carne de MS é exportada. Tudo porque o povo é ignorante e nada exigente. Há famílias que proporcionam o melhor aos filhos. Há outras onde o melhor é só pràs visitas...
Tem de exportar o que sobra, e não impingir rebotalho à população.
No fim do primeiro dia de passeio levei um susto ao ver no espelho uma cara tão rubra. Então fui correndo comprar um filtro-solar. Sou reticente a usar isso no rosto, porque ao suar escorre aos olhos e arde. Mas como o clima não fazia suar não tive esse problema.
Quanto aos famigerados efeitos de altitude, nada senti. Parecia estar aqui mesmo.
O hotel Colombia at home, pequenino e simples, sem desjejum nem nome na fachada, é muito organizado. Já na reserva informa o trajeto, preço máximo do percurso em táxi e oferece taxista de confiança pra buscar o hóspede.
O dizer no logotipo já explica o propósito: Se sentir como em casa. E é o que se percebe no atendimento da dona do hotel, dona Stella. Já mora ali pra atender melhor. Parece que seu trabalho é sua vida, paixão, extensão do cotidiano.
O hotel fica bem no costado da igreja Divino Salvador e duma avenida. No lado oposto, a poucas quadras, a avenida 53, que é um longo centro comercial.
A cidade é bonita e a arquitetura variada. Não é só concreto e asfalto e não tem buraco na rua. No máximo uma depressão com o peso dos ônibus sanfonados, pois nas avenidas principais têm muitos desses luiz-gonzagas. Passeando em táxi não se sente o veículo trepidar, pois não é um asfalto sorvete-moreninha todo remendado como aqui. É calçamento pra valer.
Poucas ruas têm nome. É tudo número, o que facilita muito pesquisar na internete e se localizar presencialmente. A disposição é como numa matriz: Linhas, colunas e diagonais. As calles (ruas) são todas paralelas entre si. Idem as carreras (carreiras), paralelas entre si e perpendiculares às ruas. Portanto não há esquina entre duas ruas nem entre duas carreiras, sempre uma rua e uma carreira, diagonal ou avenida.
O bom é que não existe a mania de mudar nome de rua nem ficar puxando saco de celebridade, o que é uma praga no Brasil. Muito bacana e poético o aeroporto se chamar El Dorado, em vez do tremendo mau-gosto doutor fulano beltrano da silva silveira e tal.
Uma página disse que lá tem o maior número de mulher bonita por metro quadrado que o cara já viu. Pode ser mas ainda acho que Curitiba dá de 10x0.
Os caras lá dizem que Medelim tem mais. O atendente do sebo Merlín disse:
— Á! Medelim é melhor. Cáli. Barranquilha, então é demais. Mas Cartagena, uau!, é o máximo!
No sábado, última passada no Torre de Babel, tive de recusar a última oferta de café. Como não tenho hábito de tomar, a cafeína já estava alta no sangue, por isso as fotos tive de tirar várias vezes, pois a mão tremia. Na próxima foto antes e café depois. Mais um pouco e já teria de recorrer às chicas complacentes, hehehehe.
Mas deve ser o café o causador de tal densidade populacional. Fui ver uma caneta lêiser, pois lá não é proibido, e num canto da loja um casal adolescente num tremendo amasso.
— Como son calientes los colombianos!
A culpa é do café, na falta do tereré...
Sobre a excelência do atendimento bogotano, no próximo capítulo.


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Colaboração de Renato Kern:
Caro Mário
Estou enviando esta colaboração de uns scans do Spirit de 1946. A aventura é localizada na floresta Amazônica e acaba no Rio de Janeiro.
Fiz a tradução e acrescentei uns comentários no fim.