O estranho mundo do gibi
Aproveitando o
comentário de Jossi, falarei sobre o estranho universo do gibi. O universo da
ficção em si já é estranho, mas o do gibi é bizarro.
Tem briga
contra leão corpo-a-corpo, herói dando gravata em touro e búfalo. O mocinho
sempre é o mais valente, nunca apanha, nunca erra e nunca morre. O cavalo do
herói é herói também, e superior aos outros cavalos. Os cavalos de sargento
Garcia não conseguem correr atrás do cavalo de Zorro. Tem até o cavalo do
mocinho fugindo dos bandidos e indo buscar ajuda! Em cachorro isso já é meio
duvidoso, como aqueles enredos de Lassie, mas vá-lá, é crível. Mas cavalo!
O mocinho
prende o bandido, que automaticamente já está condenado à cadeia. Mocinho que é
polícia, judiciário e legislativo. Nem precisa prova e o bandido nunca tem
advogado.
Em 1983 Fanny
Abramovich lançou o livro O estranho
mundo que se mostra às crianças, que infelizmente ainda não li, abordando o
tema.
Infelizmente é
rara a literatura infantil e infanto-juvenil inteligente, como a de Monteiro
Lobato. No geral predomina a baboseira melosa, o estereótipo, tipo
castelo-ratimbum, com personagens falando daquele modo afetado, excessivamente
teatral, do que imaginam que seja o mundo infantil, e a doutrinação ideológica
de ser um bom menino, um mundo falso onde todo mundo é amiguinho e reina o
maniqueísmo, etc.
Os antigos já
diziam que a diferença entre remédio e veneno é a dose. Transmitir bons
princípios é essencial prà formação moral do indivíduo, mas o excesso, a
ostensividade e onipresença desse fator deixa tudo meloso e chato.
Abomino toda
essa literatura infantilóide boboca, de gente que não tendo talento pra
escrever adulto, se refugia no infantil, onde a crítica é muito mais branda.
Tudo isso nos
prejudica, formando uma imagem distorcida da realidade, onde o malvado sempre é
feio e tem voz desagradável e sempre é castigado no final.
Os enredos
policiais são, no fundo, bem moralistas, sempre enfatizando a idéia de que o
crime não compensa, de que o criminoso sempre é pego. Mesmo nos filmes o
criminoso sempre sofre, seja morrendo, sendo preso ou ficando inválido. Pena
que os criminosos não sejam leitores nem cinéfilos.
Mas essa
pieguice não deixa de ter uma razão de ser. É chato que as estórias sejam
moralistas, mas seria muito pior se não fossem. Vejamos uma nota de rodapé do
capítulo La literatura y el crimen,
do livro Enigmas del mundo del crimen,
de José J. Llopis, editorial Daimon, 1ª edição, abril de 1964:
Hace ya más de 20 años, varios periodistas y escritores dieron
voz de alarma acerca de la perniciosa influencia de la literatura criminaloide
en las mentes poco formadas, especialmente entre la juventud. A tal efecto, en
aquella época, el periodista Francisco R. Rodríguez publicó los siguientes
párrafos:
Há mais de 20 anos, vários
jornalistas e escritores deram alarme sobre a perniciosa influência da
literatura criminalóide nas mentes pouco formadas, especialmente da juventude.
Sobre isso, naquela época, o jornalista Francisco R. Rodríguez publicou os
seguintes parágrafos:
...resultando insuficiente para la
concepción de aquellas mentes aquella literatura, se ideó dar vida a sus
personajes. Y ya tenemos a los yanquis haciendo el tiraje de varios filmes de
gángsteres. Y aquel público abigarrado, constituido ahora en casi su totalidad
por jovenzuelos de uno y otro sexos, contemplaba febrilmente la lucha de los
bandidos contra la policía, de la cual salían siempre victoriosos los primeros.
Y ellos usaban sombreros del modelo de aquéllos, e imprimían a su voz aquella
gangosa y nasal manera de hablar, al mismo tiempo que sus ojos tomaban la
expresión de perdonavida. Y ellas ya no soñaban con el príncipe blondo y
romántico, sino en la aparición brusca, después del tableteo de la
ametralladora, del gángster, que al mismo tiempo que con la diestra sostenía el
arma y con el brazo izquierdo rodeaba su talle, dijera: Hola, baby.
...sendo
insuficiente prà concepção daquelas mentes aquela literatura, se idealizou dar
vida a suas personagens. E logo os ianques
produziram vários filmes de gângsteres. E aquele público abigarrado, quase todo
constituído por jovenzinhos de ambos os sexos, contemplava febrilmente a luta
dos bandidos, sempre vitoriosos contra a polícia. Eles usavam chapéus do modelo
daqueles modelos, e imprimiam ao tom de voz aquele fanhoso e nasal modo de falar,
enquanto os olhos adquiriam a expressão de perdoa-vida. E elas já não sonhavam
com o príncipe louro y romântico, mas com a aparição brusca, depois do repicar
da metralhadora, do gângster, que ao mesmo tempo que com a destra sustinha a
arma e com o braço esquerdo rodeava seu talhe, dizendo: Alô, baby.
De las enseñanzas que proporciona aquel
género de novela, el lector tiene suficiente noticia por la cantidad de
mozalbetes que aprendieron del cine o de la lectura los procedimientos de se
apoderar de lo ajeno. Citaremos el caso del gángster Federico Dane. Cuando la
policía de Michigán, Estados-Unidos, le detuvo, en 1929, nel registro
practicado en una de las casas que habitaba encontró en su biblioteca 200
ejemplares de novelas policíacas con anotaciones marginales de todos los
errores en que incurrieron los criminales del autor. Aquello constituía un
verdadero tratado del perfecto bandido.
Do ensinamento
que proporciona aquele gênero de novela, o leitor tem suficiente notícia pela
quantidade de rapazotes que aprenderam do cinema ou da literatura a se apoderar
do alheio. Citaremos o caso do gângster Federico
Dane. Quando
a polícia de Michigão, Estados-Unidos, o deteve, em 1929, no registro praticado
numa das casas onde morava encontrou em sua biblioteca 200 exemplares de
novelas policiais com anotações marginais sobre todos os erros dos criminosos do
autor. Aquilo constituía um verdadeiro tratado do perfeito bandido.
Como consecuencia inmediata, aquel país que
primeramente divulgó el género literario que nos ocupa, fue también el primero
que tuvo que salir al encuentro de los destrozos que él mismo causaba. Aquellos
triunfos de los gángsteres sobre la policía hicieron que el público llegase a
se formar un concepto deplorable de ella. El gobierno, queriendo proteger el
respeto a las instituciones y a la moral públicas con el código de Will Hayds,
comenzó a ejercer una gran censura para la publicación de argumentos de tal
clase. Pero tan metida estaba dentro de los ciudadanos la admiración al
bandido, que atribuían a cobardía de los órganos rectores el mutismo. Entonces
se pensó en publicar una serie de películas en las cuales los bandidos
sucumbieran bajo la técnica y valor de los agentes federales (El enemigo público número 1, Pistas secretas, Contra el imperio del crimen, etc.), consiguiendo la plena
reivindicación con la serie de cortometrajes El crimen nunca paga, nel cual se llega a la conclusión de que nada
hay secreto para el departamento de policía.
Como conseqüência
imediata, aquele país que primeiramente divulgou o gênero literário sobre o
qual falamos, foi também o primeiro que teve de procurar os destroços que ele mesmo
causava. Aqueles triunfos dos gângsteres contra a polícia criaram no público um
concepto deplorável dela. O governo, tentando proteger o respeito às instituições
e à moral públicas com o código de Will Hayds, começou a exercer uma grande
censura com relação à publicação de argumentos desse tipo. Mas estava tão
incrustada nos cidadãos a admiração ao bandido, que atribuíam a covardia das autoridades
o mutismo. Então se pensou em publicar uma série de filmes nos quais os
bandidos sucumbissem sob a técnica e valor dos agentes federais (O inimigo público número 1, Pistas secretas, Contra o império do crime, etc.), conseguindo a plena reivindicação
com a serie de curta-metragens O crime nunca
paga, onde se chega à conclusão de que nada é segredo pro departamento de
polícia.
Esa influencia de criminalidad a través de la novelería,
radio, cine y televisión se acentuó con los años y con los nuevos medios
difusores. Se llegó ya a la anécdota. En final de 1962, y desde que la última
novela de la serie negra entonces en moda, Rififi
en Nueva York se puso a la venta en Estados Unidos, las joyerías de la
calle 44 hubieron de ser vigiladas por doble número de policías que de
ordinario. El motivo era sencillo: El novelista Le Breton explicó, en la obra,
cómo realizar, en las alcantarillas, el robo, a diamante, más importante del
mundo.
Essa influência
de criminalidade através da literatura, rádio, cinema e televisão se acentuou
com os anos e com os novos meios difusores. Se chegou à anedota. No final de 1962, e desde que a última novela da série negra
então na moda, Rififi en Nova Iorque estava
a venda em Estados-Unidos, as joalherias da rua 44 tiveram de ser vigiadas pelo
dobro de policiais que de costume. O motivo era simples: O novelista Le Breton
explicou, na obra, como fazer, nas redes de escoadouro, o roubo, a diamante, mais
importante do mundo.
No mesmo capítulo, sobre Conan Doyle:
Un de los grandes
de la novela policíaca hasta cierto punto. Es un vulgarizador del género, y
creador del más típico representante de los detectives, el también ultrafamoso
Sherlock Holmes. Desde 1887, cuando lanzó al público, hasta la época de la
primera guerra mundial, hizo vivir a ese personaje las peripecias más
ingeniosas. Y cuando al cabo de 30 años quiso le hacer desaparecer, lo matando
en la novela El problema final,
surgió una protesta general y violenta del público, que lo obligó a seguir
escribiendo y dando vida a un personaje que todavía en cuerpo y alma tiene vida
auténtica en la imaginación de muchos seres humanos.
Um dos grandes da novela policial até certo ponto.
É um vulgarizador do gênero, e criador do mais típico representante dos detetives,
o também ultrafamoso Sherlock Holmes. Desde 1887, quando publicou, até a época
da primeira guerra mundial, fez essa personagem viver as peripécias mais engenhosas.
E quando no fim de 30 anos quis o fazer desaparecer, o matando na novela O problema final, surgiu um protesto
geral e violento do público, o que o obrigou a continuar escrevendo e dando
vida a uma personagem que ainda em corpo e alma tem vida autêntica na imaginação
de muitos seres humanos.
Conan Doyle tenía gran imaginación. Sus casos son fértiles
en esos pormenores tan fundamentales en la técnica de la novela policíaca y,
además, usó mucho el recurso de persistir en la misma figura central, recurso
que ya utilizó el folletín, luego la radio y ahora la televisión. Pero en sus
novelas el único enterado de la verdad, al final de la obra, es el
protagonista. Y al la manifestar, se produce el inevitable coup de théatre (golpe
teatral). ¡El novelista ya cuidó de desorientar el lector con falsas
sospechas! Esa incertidumbre y el desconcierto final constituyen el buen sabor
inconfundible que la novela policíaca ofrece al lector adicto.
Conan Doyle
tinha muita imaginação. Seus casos são férteis nos detalhes tão fundamentais na
técnica da novela policial e, ademais, usou muito o recurso de persistir na mesma
figura central, recurso já utilizado pelo folhetim, logo o rádio y agora a
televisão. Mas em suas novelas o único que sabe a verdade, no final da obra, é
o protagonista. E a manifestando, se produz o inevitável coup de théatre (golpe
teatral). O novelista já tratou de desorientar o leitor com falsas suspeitas!
Essa incerteza e o desconcerto final constituem o sabor inconfundível que a
novela policial oferece ao leitor aficionado.
Na nota dessa página:
Sherlock Holmes del novelista inglés es, en realidad, Lupin
contraído a la cabal comprensión del vulgo. Lo que en Edgar Allan Poe es
sutileza, en Doyle se convierte en distensión o torsión absurda de la lógica.
La pincelada del poeta yanqui se traduce por el brochazo colorido del novelista
inglés. La labor paciente de aquél en un afán de sorprender al lector con
rasgos de inesperada teatralidad. Es que Doyle invierte los elementos de la
novela de investigación y al lo hacer crea un método técnico, un truco, que ya
ningún cultivador del género desaprovechará.
Sherlock
Holmes do novelista inglês é, na realidade, Lupin convertido à cabal compreensão
do vulgo. O que em Edgar Allan Poe é sutileza, em Doyle se converte em distensão
o distorção absurda da lógica. A pincelada do poeta ianque se traduz no brochada
colorida do novelista inglês. O trabalho paciente de Poe em afã de surpreender o
leitor com rasgos de inesperada teatralidade. É que Doyle inverte os elementos
da novela investigativa e assim cria um método técnico, um truque, que nenhum
cultivador do gênero desperdiçará.
[…]
Algunos de esos autores merece figurar en la historia
literaria con todo honor. Me refiero, naturalmente, a Simenon. No podemos decir
lo mismo de Edgar Wallace, aunque su fama sea extraordinaria y fue, junto con
Doyle, el escritor policíaco que más dinero ganó.
Alguns desses autores merece figurar na história
literária com toda honra. Me refiro,
naturalmente, a Simenon. Não podemos dizer o mesmo de Edgar Wallace, apesar de sua
fama ser extraordinária e foi, junto com Doyle, o escritor policial que ganhou
mais dinheiro.
[…] todavía recuerdo un gazapo de una de sus obras [Edgar
Wallace], El cofrecillo de doble fondo,
donde el autor asegura, muy formalmente, que la sangre de la víctima, nel piso
superior, cayó al inferior se filtrando nel pavimento.
[…] ainda me
lembro duma gafe duma de suas obras [Edgar Wallace], O cofrinho de fundo falso, donde o autor garante, muito
formalmente, que o sangue da vítima, no piso superior, desceu ao inferior se infiltrando
no piso.
¡Ni que fuese una piscina de sangre!
Mesmo que
fosse uma piscina de sangue!
[…] Las tramas de Ellery Queen, bien desarrolladas lógica
y literariamente, constituyen un alarde de seguridad y despeje imaginativo,
pero en lo general forman tan terrible embrollo que no hay lector con ánimo
bastante para acometer tan difícil tarea.
[…] As tramas
de Ellery Queen, bem elaboradas lógica y literariamente, constituem um alarde
de segurança y vôo imaginativo, mas no geral formam tão terrível maçaroca que não
há leitor com ânimo suficiente pra executar tão difícil tarefa.
Sobre Agatha Christie:
Hablando con sinceridad. Sus obras son literariamente muy
aceptables pero en ellas alguna vez se hace imposible la tarea de investigación
del lector o espectador porque a menudo la autora mutila de intento el relato,
ocultando con deslealtad fragmentos de los hechos que aparenta revelar. Y eso
no está bien.
Falando sinceramente. Suas obras são literariamente muito aceitáveis mas nelas
alguma vez é impossível a tarefa investigativa do leitor ou espectador porque a
miúdo a autora mutila intencionalmente o relato, ocultando com deslealdade
fragmentos dos fatos que finge revelar. E isso não está certo.
O universo
disney apresenta uma paródia de nosso mundo, como se milhões de anos no futuro
os patos e outros bichos evoluíram à forma humana. Tem um fato bizarro de que
há bichos-bicho e bichos-gente. Assim Pateta é um cão-gente e Pluto um
cão-bicho. Também tem a esquisitice de jacaré pôr a língua a fora e Margarida,
que é uma pata, ter seios e usar sutiã, sendo que os patos não são mamíferos. E
por que os patos têm o joelho na frente? Os patos reais têm o joelho atrás,
como as galinhas. O fato de terem quatro dedos na mão é explicável pelo fato
desses bichos em geral terem quatro dedos, mas nunca entendi porque todos usam
luva branca.
Bizarro também
é o gorila dos gibis, sempre feroz como um carnívoro. Burne Hogarth é tão
aclamado pela apurada técnica de desenhista, tendo até volumes ensinando sua técnica
anatômica no desenho, mas só se for anatomia humana, porque o gorila...
Eis a
diferença entre um gorila rogartiano e um do mundo real:
Se não me engano, nos livros do Edgar R. B. ele não fala em gorilas, mas grandes macacos. Mas o universo do escritor é confuso, ele nunca havia visitado a África antes de escrever os livros do homem-macaco. Nos desenhos do H. Foster também não aparecem gorilas. E o desenho que aparece ilustrando teu texto é do Joe Kubert http://diodatilodge.wordpress.com/2012/08/14/joe-kubert-1926-2012/
ResponderExcluirSou leitor assiduo do teu blog
rekern@me.com