Dã! Todo mundo pensou que era do Peru.
Eta publicitário criativo!
Qual a cor do cavalo branco de Napoleão?
Sugestão prà filial gaúcha:
Banco de Chile
O banco do Chile
Mas é um baita banco tchileno mesmo, tchê!
Crônicas de Santiago
Da autobiografia não-autorizada de Che Guavira
Só liberada por causa da lei de liberdade de
informação
Segunda viagem
A segunda
viagem foi bem menos atrapalhada. Mas o que gostei, e me deixou de alma lavada,
foi na volta ver a prática da reciprocidade. Agora eles também têm de preencher
formulário pra apresentar no guichê da polícia e declarar se levam algo de
origem animal, etc, igual nós pra entrar lá.
Quando entreguei, a moça do guichê da PF disse, cum sorriso: Não. Isto é só
pra estrangeiro.
Dizem que a
restrição é pra evitar a entrada de praga agrícola, mas quem vai de ônibus
passa numa boa, e também vai numa boa no correio. Então é claro que não se
trata disso, é só um pretexto pralguma outra coisa, pois o maior responsável
por entrada de praga é navio.
Uma pena que
não pude encontrar minha tão amável correspondente. Em seu lugar estava a
empregada, muito azeda e mal-humorada. Mas dona Adriana compensou tudo. Só
lamentei o licor de pequi que levei do Mercadão. Uma droga. Licor de açúcar,
isso sim! Tinha de usar muita imaginação pra fazer de conta que era de pequi.
Que raiva presentear amigos estrangeiros com uma das coisas mais típicas daqui
e constatar que o produto é praticamente uma fraude!
O vôo de ida
coincidiu com a decisão de Haia sobre a disputa de soberania marítima na
fronteira chileno-peruana. Então guardei os jornais que publicaram toda a
história da disputa. O Chile choramingando a área marítima que tomou a força,
cada um choramingando um pouco e comemorando outro pouco. A história toda é uma
barafunda infernal, com o tribunal de Haia, fazendo média, como quando mandou o
Brasil devolver a Guiana francesa tomada quando Napoleão invadiu Portugal.
Esses
hispânicos são tão conservadores que continuam com o patriotismo do começo do
século 19. Alguns feriados são vitória tal na guerra do Pacífico, dia das
glórias navais, etc. Imagines se aqui ficássemos fazendo festa na data da
batalha de Riachuelo, por exemplo, como ficaria o clima com a paraguaiada?
Minha gente, é preciso respirar fundo, não olhar atrás, largar de orgulho besta
e sair do século 19.
Têm muita
rivalidade com os peruanos, bolivianos e argentinos. Mas era de se esperar,
pois rivalidade sempre há com o fronteiriço, sempre é o vizinho quem incomoda.
São muito
conservadores, arcaicos mesmo. Diz que nas lojas não atendem bem quem anda de
chorte e camiseta. Só de me ver comendo uma tuna (figo-da-índia) com casca,
dona Adriana me tomou da mão, escandalizada, dizendo que não se come isso, que
pode fazer mal, que se num restaurante me virem comendo assim ficarão olhando,
admirados.
Comentei a
dona Adriana sobre o vício de linguagem de se usar dois verbos em vez de um.
Disse que é porque muita gente escreve e fala mal. Que os cubanos falam muito
mal. Que detestam os peruanos mas que tem de reconhecer que falam muito bem, um
castelhano impecável. Disse também que é engraçado o fato de que no Chile os
homens são bruscos no falar e as mulheres falam suave, enquanto os brasileiros,
ao contrário, os homens falam de modo suave e agradável e as mulheres de modo
brusco e atropelado. Um amigo aqui comentou que lá fora gostam de ouvir
brasileiros conversando, porque o idioma soa muito musical.
Ali há muitos
peruanos e bolivianos fugindo da pobreza. Também há negros, coisa que não
conheciam, e que causam muitos problemas. Disse que assustam um pouco esses
negros. Eu disse que ninguém sai de sua terra se está bem. Só se sai a
construir um mundo novo quando não se tem mais espaço ou se está desconfortável
em seu torrão. Como quando os sulistas que povoaram Mato Grosso. Durante muito
tempo paranaense era sinônimo de espertalhão, malandro, vigarista, porque os
que vêm desbravar são aventureiros, artistas desambientados, comerciantes
fugindo da competição dum mercado saturado, idealistas de todo tipo, ladrões.
Enfim, gente de todo tipo. Portanto é mais provável terem chegado negros
desambientados em sua terra. Não é porque são negros. Os escravos trazidos ao
Brasil tinham uma bagagem cultural muito maior que os imigrantes italianos.
Eram versados em árabe, dentre eles reis (tem até o filme Chico rei), pois eram povo de nação vencida e assim vendida como
escravo.
Os chilenos
também têm muitos problemas com os mapuches, mas é porque são atiçados por
essas ongues de fachada, não porque são índios. Mas também faltou um marechal
Rondon.
Ali impera a
mesma paranóia de criminalidade, por causa de noticiário criminal estar
onipresente na televisão. Assim vivem se trancando, com cortina, enclausurados,
como se um instante que se abra a cortina alguém de fora estará olhando. Igual
aqui, onde tem gente que chega a fazer muro de 5m de altura.
Não consomem
verdura, e nem pensar em água de poço, porque, não sei quando, houve uma
epidemia de cólera. Mas cólera é de água contaminada de superfície, não
subterrânea. Eu disse que desconfio muito dessas estórias, porque se uma vez
teve uma epidemia, perpetuam a paranóia pra todo mundo aceitar essa água
envenenada com cloro e flúor, assim como aqui instigam o mito de leite
contaminado, inventam que galinha veicula leichimaniose, etc, pra que a única
opção seja alimento industrializado.
Falando sobre
a rivalidade com os vizinhos, disse:
— Agora a
Bolívia quer de volta a saída ao mar. Muito fácil!, né? Faz uma guerra pra
conquistar, perde, e depois quer de volta o que perdeu. Antes Chile era o mais
pobre da região. Bolívia e Peru se uniram contra o Chile e foi um
deus-nos-acuda, uma mobilização nacional como nunca vista. Ganhamos não sei
como!
Então
respondi:
— Foi com
ajuda do Brasil. O dono dum sebo que visitei nas torres de Tajamar contou que
na guerra do Pacífico (eta nome esquisito pruma guerra!) o Chile teve ajuda do
imperador dom Pedro.
Fui às torres
de Tajamar, no bairro Providência, uns edifícios cujo térreo consiste numas
galerias que lembram muito as de Brasília, cheia de sebos mas livros muito
caros. Assim melhor comprar na Estante Virtual, mesmo com o frete caríssimo,
olho-da-cara, do correio.
Nos sebos da
rua São Diego e do mercado persa sim, há baratos e caros.
Andando no
centro notei que também há postes e árvores no meio da calçada. Numa esquina
central e muito movimentada até um hidrante no meio da calçada. Se é algo raro
em Campo Grande é hidrante, coisa que eu só via nos gibis do tio Patinhas.
Igual cachorro correndo atrás de gato, multa por estacionar na frente de
hidrante: Coisas que só se vê em gibi.
Nos passeios a
pé não encontrei os famigerados cachorros inimigos do transeunte. Aqui não se
pode andar na calçada sem levar um susto ao passar diante duma casa que tem
cachorro. É uma praga brasileira. Uma amigo aqui tem três cadelas. Quando vou
até lá tenho de esperar no outro lado da rua, pois os malditos bichos latem tão
alto que chega a doer os ouvidos. Só não soltarei rojão quando proibirem criar
esses bichos porque odeio rojão.
Também não tem
a cesta pra pôr saco de lixo, que usam aqui na calçada. Mas o melhor de tudo é
que não existe essa maluquice daqui, que é a faixa pra cego na calçada, coisa
feia e desconfortável. Já puseram até no aeroporto de Guarulhos. O carrinho
bate, como uma barreira, quando tem de atravessar uma. Coisas que nunca vi: Cego
andando nessa faixa, cadeirante no rebaixado da calçada (mas bicicletas sempre)
e enterro de anão. Talvez Nélson Ned...
Outra coisa
que não se vê lá é mulher bonita. Claro que o bonito é um conceito pessoal e
cultura e consiste em harmonia dos traços, simetria com um pouco de assimetria,
e traços harmônicos e desarmônicos há em todas as raças.
Se persiste o
conceito glacial boboca e preconceituoso de elegância, de que quanto mais
roupa, de pele, casaco de couro, mais chique e elegante, e que quanto menos
roupa mais brega, também temos o direito de expressar nosso velho, surrado e
estereotipado conceito de mulher bonita.
A passagem foi
comprada ida-e-volta na Edestinos. Ficou aquela coisa atravessada TAM-Lan. Tã
comprou Lã mas a fusão está mais pra confusão, de modo que ficou contramão
confirmar na Tã quando a passagem é da Lã. Foi então que a Tã ficou tantã
fazendo bobagem com a bagagem. Primeiro que na ida foi direto mas na volta tem
de sacar as malas em Guarulhos e chequinar elas de novo. Foi então que se deu o
maior tantã. No chequim em Santiago tive de fazer uma recomposição por excesso
de peso. Passando à bagagem de mão uns tantos livros, deu 7kg de mão. A
atendente da Lã disse que são 23kg na bagagem despachada e 8kg na de mão. Então resta 1kg. Muito bom! Mas como
teve a esquisitice de redespachar as malas, o atendente da Tã em Guarulhos disse
que a bagagem de mão era excessiva, passando do limite de 5kg!
— Mas comprei
passagem de avião. Por que irei de balão?
— Que balão?
— Em viagem de
balão é que tem de soltar lastro, pro balão subir. Então tenho de jogar fora
uns livros pra continuar a viagem? Pensei que era tudo padrão internacional. No
chequim de saída o limite era 8kg. Na escala é 5kg? Tenho de soltar lastro! Ou sois
estagiários do hospício?
— Bom... Se a
passagem foi comprada duma só vez, então vale o primeiro peso.
Me fez lembrar
quando fui ao correio em 2012, enviar um estojinho de DVD num envelope. A
atendente disse que tinha de ser numa caixa. Peguei a caixa, rasguei os
endereços do envelope e colei na caixa. No dia seguinte tive de enviar outro.
Fui à mesma agência-franquia mas era outra funcionária atendendo. Disse que não
era pra pôr em caixa mas em envelope...
Mas o cúmulo
da coincidência foi que ganhei o concurso de escaneio do Realismo fantástico e
os livros-prêmio a receber na volta. É verdade que fui o único participante...
Mas poderia ter pego o prêmio pessoalmente, pois Roland é de Santiago.