domingo, 14 de abril de 2013

A língua esculhambada
Este é um artigo contestador
Não deve ser usado pra concurso, vestibular, etc.
Aportuguesar é preciso, viver não é preciso
Não adaptar termos alienígenas de uso corrente ao idioma (em nosso caso, aportuguesar) é um sintoma de decadência cultural. Os termos time, futebol, placar, blecaute, reveião, garção, e tantos outros vêm de línguas estrangeiras e foram aportuguesados porque a imprensa da época (até a década de 1960) tinha outra verve. Perdemos a personalidade e deixamos o idioma poluir, macaqueando.
Não se trata de patriotismo e sim de coerência, estética, praticidade e personalidade.
Creio que se estou falando num idioma tenho de usar palavras daquele idioma. Se estou conversando em castelhano não tem sentido entremear termos de inglês, português ou francês no vocabulário. Isso descaracteriza e vilipendia o idioma usado.
 Imagines se nunca tivéssemos aportuguesado café, Vênus, alfazema. Como escreveríamos palavras de origem árabe, grega ou chinesa? Usaríamos letras árabes pra escrever café?
Se imagina que são poucos barbarismos, mas são muitos. Não se percebe que é uma enxurrada, o que acaba poluindo o idioma.
 Sempre aportugueso neologismos em meus textos. Escrevo imeio, Maiame, lêiser... mas minha possibilidade de influenciar é nula. Pronuncio xeróx, pois xérox é pronúncia em língua inglesa.
Acho positivo termos como deletar, atachar... Isso enriquece o vocabulário. A barbárie está em pronunciar e escrever macaqueando.
Outro cacoete é o plural de sigla, notação científica e abreviação. Escrevem CDs, CD'S, MP3s, URVs (embora nunca R$s). Isso vem do macaqueamento do inglês, pois sigla, notação científica e abreviação não têm plural (tal como prefixos como extra e contra, por exemplo), pois se a intenção é simplificação e rapidez é uma estupidez pluralizar.
Não pode existir plural em sigla, abreviatura e notação científica. Seria um contra-senso.
Mesmo porque não é sempre que o plural é feito se acrescentando um S. O plural de qualquer é quaisquer, não qualqueres. Há vocábulos cujo plural é o mesmo, como lápis. Alguém escreve Tenho dois lápis’s?
Comumente vemos burrices como abreviar metro como MTS. Incluindo o ponto! Não faz sentido abreviar quando o resultado é quase do tamanho da palavra, ainda mais se tendo uma notação científica de apenas uma letra.
O mais estapafúrdio da moda, mostra dessa sandice, é a tal mudança de nome de países: outro macaqueamento do inglês. Que história é essa de que Bengala virou Bangladesh, Birmânia virou Miyanmar, Ceilão virou Sri Lanka? O nome do país insular ao sul da Índia, em língua portuguesa, é Ceilão. Só é admissível mudar isso quando o país se dividir e o nome duma parte se confundir com a outra. Mesmo assim a um termo em português. O país cujo nome em português é Alemanha, em alemão é Deutschland. Suécia é Sverige, Finlândia é Suomen Tasavalta, Albânia é Sqipni. Se chamamos Alto Volta de Burkina Fasso, então devemos chamar Estados Unidos de United States, Áustria de Oesterreich, Escócia de Scotland e Inglaterra de England. Então por que os países de língua inglesa escrevem Brazil em vez de Brasil?
Na idade áurea de Portugal, do Portugal pujante da era da navegação, até Lancaster era aportuguesado a Alencastro, Mainz virou Mogúncia, Michigan é Michigão, Glasgow é Glásgua... Tratar o idioma como lata de lixo, como espam de neologismo, é sintoma de baixa auto-estima, pouca pujança, subserviência, apatia, imaturidade. Somos um povo imaturo, apático e acomodado. Desculpe a sinceridade.
Hoje é chique pronunciar sempre proparoxítona. Côssovo em vez de Cosovo. Acham esdrúxulo Chechênia, mas muito mais esdrúxulo é Chicago ou Bóston, apenas que já acostumamos. Sempre que a palavra é desconhecida o locutor pedante acha elegante pronunciar em proparoxítona (influência do inglês), em vez de optar pela simplicidade. Assim os locutores pedantes quando mostram os gols (gols?, que plural é esse?) do time inglês Arsenal, pronunciam Ársenal. A maioria dos topônimos contemporâneos vindos de idiomas exóticos é uma adaptação ao inglês. Por que temos de usar grafia inglesa? Hong Kong é uma adaptação ao inglês. Por que não escrevemos Rongue Congue? Se escrevemos Pequim, Nanquim, Xangai.
Cada povo denomina um lugar numa palavra de seu próprio idioma. Assim a capital inglesa é chamada London em inglês, Londres em português e castelhano, Londra em italiano, por exemplo. O país que, em inglês, se chama England, em português e castelhano é chamado Inglaterra.
Adaptar ao idioma palavra estrangeira de uso corrente é característica de vitalidade, vigor, cultura, pujança, personalidade. Em nosso caso, aportuguesar. Como acontecia na idade áurea de Portugal. Macaquear, achar chique estrangeirismo,é sintoma de decadência cultural, embasbacamento, subserviência, complexo de inferioridade. O que ocorre hoje: Preguiça mental, minagem secreta, imaturidade, colonialismo, ignorância, burrice?
Com a imprensa americanizada, tomada por pessoas incultas, profissionais meia-sola, espécie de macdônal da comunicação, vemos, dentre tantas barbaridades, uma tremenda esquisitice, verdadeira burrice, com relação aos nomes de país.
(Como exemplo da incoerência terminológica temos o vocábulo anglófilo workaholic, designando o viciado em trabalho. O termo work (trabalho) + alcoholic (alcoôlmano) (o termo alcoólatra indica quem idolatra o álcool, não necessariamente ser viciado nele. Assim uma religião que adora o álcool não teria, necessariamente, fiéis viciados. Portanto o termo alcoólatra pra designar viciado é impróprio). Teria de se juntar a raiz trabalho + uma raiz vício, mania. Alcoólico não significa viciado em álcool e sim que contém álcool. Então um entregador de garrafa de uísque ou degustador exerceria um trabalho alcoólico. Portanto o termo workaholic, além de estrangeirismo é um estrangeirismo burro já na própria língua de origem. Podemos criar palavras muito mais interessantes e precisas pra designar o viciado em trabalho, como labutômano, não essa feia e estúpida workaholic.)
Um modismo capenga dos que acham chique chamar Birmânia de Mianmar, Bengala de Bangladesh, Ceilão de Sri Lanka, Alto-Volta de Burkina Fasso, Rodésia de Zimbabwe, etc.. Adotando, assim mesmo, grafia inglesa.
Dizem que tal país mudou de nome. Um golpe de estado, um toque de vaidade, e só porque mudaram lá, no idioma do tal país, macaqueamos aqui. No caso rodesiano, descobriram ruína de origem desconhecida, anterior aos negros, nem se sabe que povo construiu aquilo, e o novo regime resolve adotar aquele nome.
Não importa que nome tem, em sua língua oficial, tal país. O nome, em português, é tal e só se criará outro quando houver divisão ou desmembramento, de modo a se evitar confusão, como, por exemplo, Checoslováquia, se dividindo em República Checa e Eslováquia.
Afinal, quando Brazil passou a ser grafado Brasil, continuou a ser grafado com Z em inglês.
O que chamamos Suécia é Sverige em sueco. Alemanha é Deutschland e Áustria é Oesterreich ou Österreich em alemão. Albânia é Shqipni ou Shqipri em albanês. Finlândia é Suomen Tasavalta em finlandês. Em dinamarquês Copenhague é Kobehavn. Copenhagen é em inglês. Moscou é Moscú em castelhano, Moscovo em português luso e Moscou no Brasil (influência do inglês Moscow).
Então teremos de chamar França de France, tirar o acento de Itália, trocar Inglaterra por England, Escócia por Scotland, Espanha por España. Estados Unidos (País que não tem nome, só sigla, que nem é um país, é uma empresa) por United States. Qual idioma usaremos pra renomear a Suíça?
Então teremos de usar o alfabeto grego pra denominar a Grécia, o alfabeto cirílico pra denominar a Rússia e a Bulgária, por exemplo, o alfabeto árabe pra denominar os países árabes. Pior ficará a denominação da China, Japão, Coréia. E os planetas? Devemos esperar contatar com os alienígenas pra saber como chamar Mercúrio, Vênus, Marte...?
Estamos tão decadentes que esquecemos que Basra é Bássora, Bombai é Bombaim, Mainz é Mogúncia, Glasgow é Glásgua, Michigan é Michigão, Oregon é Oregão, Zmir é Esmirna, New Orleans ou Nouvelle Orléans é Nova Orleãs, Canterbury é Cantuária, Newfoundland é Terranova, Northumberland é Nortúmbria, Pearl Harbour é Porto Pérola,
E quando surge um nome novo, exótico, acham chique pronunciar em proparoxítona: Côsovo. O time de futebol inglês é pronunciado Ársenal pelos narradores e comentaristas. Já vi caso de palavra francesa ser pronunciada em proparoxítona, o que não existe em francês!
Como locutores ignorantes que dizem Zúrique. Ora, Zurique é da porção suíça de língua alemã e se pronuncia algo como zirrík. Donde sacou essa pérola de zúrique?
Nova Iorque os preciosistas da imprensa Nova York, de forma esdrúxula, híbrida: Metade numa língua, metade noutra. E a última moda, o mais chique (eles diriam chic) da imprensa aduladora do óscar: Pequim acham chique dizer e escrever Beijing. É muita frescura!
Achamos chique chamar vagalhão de tsuname, desfiladeiro de canyon, toucinho de bacon (Neste caso originário do francês, adaptado ao inglês. Então nossa burrice é ao quadrado), reveião de réveillon (só falta mudar carnaval a carnival).
Nossos antepassados imediatos eram mais sóbrios e menos preguiçosos: Enriqueceram o vocabulário mas aportuguesando: Stock virou estoque, placard virou placar, blackout virou blecaute, football virou futebol, volleyball virou voleibol ou vôlei, team virou time, maillot virou maiô, bikini virou biquíni, bulldog virou buldogue, penalty virou pênalti, nylon virou náilon. É assim que fazem os franceses, tão ciosos de seu idioma que quando Ed Motta chegou e foi falando inglês foi vaiado. Aqui, terra de jeca, é vergonha defender o idioma nacional. Fazem questão de usar a horrível palavra performance? Então escrevam perfórmance, oras bolas! Escrever site e pronunciar çaite ou online e dizer onláin. Até o sublinhado ficam chamando de underline! É de dar dor-de-barriga, de cabeça e de ouvido.
Mas até hoje, escrevemos show, pizza, diesel, software, performance, marketing, merchandising, internet... Preguiça mental, alienação?
Ou será que a enxurrada neologística é tão grande que como diz o ditado: Se o estupro é inevitável relaxes e aproveites. Mas quando o termo já existe só podemos taxar de crassa ignorância abandonar o vagalhão e embarcar no tsunami, por exemplo. Em vez de dizer que está no ar, ou que está conectado, dizer que está online [onláine, arre!]. Em vez de dizer descarga dizer download. Mau gosto ainda é eufemismo pra rotular quem faz isso. O povo chique não descarrega nem baixa, faz download. Será que o monitor dessa gente é todo emoldurado com purpurina?
Termos já vigentes como garção, cupão, roteiro, lema, estafa, numa involução viraram garçon, cupon, script, slogan, stress.
O conto Língua portunglesa apenas demonstra que pensamos que são só umas palavrinhas estrangeiras e não percebemos que é, na verdade, uma enxurrada, constituindo uma verdadeira poluição idiomática. Logo falaremos um inglês com uns e outros vocábulos portugueses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário