segunda-feira, 23 de abril de 2012

A reforma ortotrágica
Sobre a mais recente reforma ortográfica, nada contra simplificar a escrita, mas o argumento de unificação luso-brasileira está falho. Vejamos:
● Se a reforma visa unificar a ortografia nos países lusófonos, unifica, mas durante quanto tempo? Presse fim antes do acordo ortográfico teria de se implantar uma interação entre os países: Os livros, jornais, telejornais..., tudo indo e vindo como se num mesmo país. Isso não foi feito. O acordo ortográfico antes disso é pôr a carroça diante dos bois. Então em poucas décadas a ortografia divergirá novamente, por falta dessa interação. Sendo tudo um desperdício de esforço, tempo e dinheiro. Muito antes dum acordo ortográfico deveria estar funcionando uma comunidade lusófona, igual ao commonwealth britânico. Isso tudo revela uma ingênua visão geopolítica.
● Lendo livros portugueses não sinto desconforto nem estranheza. Apenas alguns vocábulos ligeiramente diferentes, como aconteceria com qualquer regionalismo. Nada mais.
● Nada se falou sobre as acentuações tipo atómico, lámpada, génio, António... (no Brasil atômico, lâmpada, gênio, Antônio) ou, por exemplo, parámos. No Brasil nas duas formas se escreve paramos. Em Portugal:
Parámos: Primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do modo indicativo do verbo parar.
Paramos: Primeira pessoa do plural do presente do modo indicativo do verbo parar.
No Brasil: Sempre paramos diante daquela porta, mas tendo festa na vizinhança, estava tudo ocupado. Só bem longe finalmente paramos.
Em Portugal: Sempre paramos diante daquela porta, mas tendo festa na vizinhança, estava tudo ocupado. Só bem longe finalmente parámos.
● Se a intenção é unificação ortográfica, não se levou em conta uma séria de diferenças vocabulares Brasil-Portugal:
canadense – canadiano
Iugoslávia – Jugoslávia
Moscou – Moscovo
dezesseis, dezessete – dezasseis, dezassete
registro – registo
rastro – rasto
equipe – equipo
caminhão – camião
próton – protão
nêutron – neutrão
elétron – electrão
méson – mesão
íon – ião
aníon – anião
catíon – catião
taoísta – tauista
terremoto – terramoto
umidade – humidade
...
Não se trata apenas de se suprimir o c mudo, como em acção, direcção, etc, pois isso não ocorre em dicção, pactuar, convicção, etc. Idem o p mudo, como em baptismo, óptimo. Mas não corre em optar, opção, por exemplo.
● Qual a serventia de tanta normatização se a imprensa escreve tão errado? Basta passear nas páginas internéticas em geral e nas folhas de jornal pra se ver o relaxismo ortográfico. A reforma normatizando tanto o uso do hífen mas na prática já parece abolido: Filho-da-puta, lua-de-mel, todo-poderoso, pão-doce, pão-queijo, pão-de-açúcar, pão-de-mel, bom-humor, bem-humorado, batata-doce..., comumente escrito separado. De nada adianta uma reforma ante uma imprensa que escreve tão mal. A situação é tão crítica que até hoje há quem escreva cajú, urubú, maracajú, anhembí, jabutí... Isso sem falar na praga de estrangeirismo.
● Um efeito colateral de muita simplificação é a dubiedade da pronúncia. O que aproximará o português duma péssima característica do inglês. Uma palavra nova trará dúvida quanto a sua pronúncia. Com a supressão do trema, imaginemos uma palavra nova axuguenta. Será pronunciada açuguenta, azuguenta, acsuguenta, achuguenta, açugüenta, azugüenta, acsugüenta, achugüenta?

A queda dum acento diferencial é exemplificada no nome do arquipélago de Abrolhos. Erroneamente se pronuncia abrólhos e se diz que se originou da expressão Abre olhos!, por causa dos recifes, perigosos à navegação. Mas abrolhos é uma vegetação e se pronuncia abrôlhos. Em Poços de Caldas há uma rua Abrôlhos. Essa grafia, com acento circunflexo, está em livros de ortografia arcaica, onde está grafado abrôlhos. Por exemplo, em Revista contemporânea de Portugal e Brasil: publicacão mensal, Volume 2:

Taes foram as primeiras scenas da vida da vida nupcial de Catharina de Würtemberg. Não custará a crer, que pela continuação ella pizasse mais abrôlhos do que flores!
No dicionário KingHost Abrolho: sm Planta rasteira e espinhosa da família das rutáceas. Ponta ou pua do fruto dessa planta. Espinho, estepe. Escolho, recife. Figurativo: Dificuldade, amargura (Vida cheia de abrolho)
● Conclusão: Uma reforma ortográfica romântica, ingênua, equivocada, apressada, mal-planejada, mal-concebida. Desperdício de tempo, esforço e dinheiro.

Pudim de mel Che Guavira
· mel equivalente 1 lata (295g) daquelas de leite condensado
· a mesma medida de coalhada (creme de leite ou iogurte natural)
· 4 ovos
Bater os ovos e misturar tudo no liqüidificador, batedeira ou mix. Pôr essa mistura na fôrma anelar untada. Levar ao fogo, tampado, no banho-maria típico de pudim até dar consistência (que se verifica enfiando uma faca na massa).

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